Amazonia

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL AMAZÔNIA

Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) Provincial da Província dos Jesuítas do Brasil Pe. Mieczyslaw Smyda, S. J. Secretário para Promoção da Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil e Diretor do OLMA Pe. Jean Fábio Santana, S. J. Secretário Executivo Luiz Felipe Barboza Lacerda O Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS) é uma articulação de Entidades, Pastorais e Movimentos Sociais que atuam em rede para gerar consciência crítica e enfrentamento em relação a tudo que causa o aquecimento da Terra e vai tornando mais perigosas as mudanças climáticas, de modo especial para os povos, comunidades e pessoas que as sociedades capitalistas jogam na marginalização e na miséria. Atua em âmbito nacional e se faz presente nos biomas e territórios por meio das suas 36 entidades membros e de outras entidades parceiras, promovendo a convivência com cada bioma e ecossistema por meio de práticas que anunciam e vão construindo sociedades de Bem Viver. Núcleo RO do FMCJS\Instituto Madeira Vivo - IMV\Comitê de Defesa da Vida Amazônica da Bacia do Rio Madeira - COMVIDA Núcleo AM do FMCJS\Serviço Amazônico de Ação Reflexão e Educação Socioambiental - SARES Núcleo PA do FMCJS\Movimento Tapajós Vivo - MTV\rede Eclesial Pan-amazônica - REPAM

Iremar Ferreira Mary Nelys Almeida Carlos Alves Mayá Regina Müller Schwade (Organizadores) Casa Leiria São Leopoldo - RS 2024 Amazônia Coleção Corredores Bioculturais do Brasil

Corredores Bioculturais do Brasil Amazônia Ilustrações: Carlos Alves. Textos: Adriano Luis Hahn, Carlos Alves, Iremar Ferreira, Mary Nelys Almeida e Mayá Regina Müller Schwade. © Direitos reservados Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS). Ficha catalográfica Bibliotecária: Carla Inês Costa dos Santos - CRB 10/973 É proibida a reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio, sem a permissão escrita do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental e dos coordenadores do Projeto. A489 Amazônia [recurso eletrônico]. / organização Iremar Ferreira…[et. al.] ; ilustrações de Carlos Alves. – São Leopoldo: Casa Leiria, 2024. (Coleção Corredores Bioculturais do Brasil). Disponível em: <http://www.guaritadigital.com.br/casaleiria/ olma/corredoresbioculturais/amazonia/index.html> Direitos reservados: Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA); Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS). ISBN 978-85-9509-116-0 1. Ecologia integral – Amazônia. 2. Amazônia – Corredores Bioculturais – Desafios e ameaças. 4. Amazônia – Corredores Bioculturais – Boas práticas. I. Ferreira, Iremar (Org.). II. Alves, Carlos (il.). CDU 261.9(811.3) DOI: https://doi.org/10.29327/5406475

Sumário 06 Devoção à Amazônia 08 Apresentação 13 Desafios e ameaças 17 Boas práticas 25 Vamos refletir 27 Interligação com os demais biomas

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 6 Oh Amazônia, cuidado com o pé do boi. Chico já disse ninguém mais se esqueceu; O latifúndio traz miséria, acaba a mata, incendeia, desacata milenares filhos teus. Se expulsar o seringueiro meu amigo, pense comigo a seringueira vai chorar; É sua escora, é companheira, é sua amiga e ela percebe que ele sabe preservar. Muita tristeza no tombo da castanheira, pro castanheiro é quase morrer de dor; Ver destruída sua eterna companheira, por um projeto que ele não testemunhou. E como fica onça pintada, arara azul, paca, cutia, periquito, porco-espinho; O jacaré, traíra, boto e lambari, pedem socorro com seu choro jacamim. Chega de longe uma falsa ecologia, mas, essa fria seu projeto já mostrou; Imperialismo vem escrito na cabeça, não tem magia quem não conhece o amor. Levanta o índio junto aos outros companheiros, vimos ligeiros contra a força desse mal; Fazer corrente em toda a América Latina, a causa é nobre, a luta é internacional. Zé Pinto Cantor e compositor popular Poema da canção Devoção à Amazônia, gravada em 1998. Coletânea Arte em Movimento (Pinto, 2002). DEVOÇÃO À AMAZÔNIA

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COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 8 Fonte: Foto com drone operado por Iremar Ferreira. O projeto Coleção Corredores Bioculturais do Brasil, quer abordar de maneira envolvente, interligada à realidade de nossos espaços de vida denominados de biomas. Construídos numa linguagem simples, por pessoas de cada lugar, pretende ser uma ferramenta de reflexão e compreensão de que cada bioma é um grande corredor biocultural, cheio de vidas, de memórias, de desafios e de realizações. Neste sentido, esse volume nos apresenta o grande corredor biocultural, o Bioma Amazônia. Um trabalho realizado a muitas mãos por pessoas que vivenciam na Amazônia brasileira seus ecossistemas, seus povos, suas culturas em conexão com outras realidades na perspectiva panamazônica e dos demais biomas brasileiros. APRESENTAÇÃO

AMAZÔNIA 9 PRESENÇA INDÍGENA NO CORREDOR BIOCULTURAL AMAZÔNICO - SÉC. XX E A DISTRIBUIÇÃO DE SOLOS DE TERRA PRETA COMO REGISTRO DE OCUPAÇÃO Curt Nimuendajú, Mapa etno-histórico do Brasil e regiões adjacentes [Ethnohistoric Map of Brazil and Adjacent Regions], 1942. Fonte: Freire (2015). Fonte: Pivetta (2018).

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 10 • O Corredor Biocultural Amazônia, em sua região ocidental, tem como principal formador a bacia do rio Madeira, alimentado por rios oriundos dos Andes: Madre de Dios e Beni, assim como o rio Mamoré e Iata, ambos de território boliviano, que desemboca no rio Amazonas. • No Acre, a bacia do Purus e do Juruá alimentam o rio Solimões, que se junta ao rio Negro para formar o grande rio Amazonas. Tem cerca de quinze povos indígenas contatados e grupos em condição de isolamento voluntário (CPI-Acre, 2023). Populações tradicionais e migrantes compõem esse cenário que faz divisa com Bolívia e Peru. • Em Rondônia, mais de 29 povos indígenas compõe essa diversidade, além dos povos em condição de isolamento (ISA, 2018) e demais populações tradicionais e migrantes. Faz divisa com a Bolívia pela bacia do rio Madeira. Ver Bacia do Rio Amazonas, Wikipedia (Bacia..., 2022).

AMAZÔNIA 11 • No corredor biocultural Amazônia, na sua porção centro/leste, o rio Amazonas é o grande corredor hídrico, interligado por outras bacias secundárias como a bacia do rio Tapajós, bacia do rio Xingu, localizadas na parte sul da Amazônia com suas nascentes no planalto central. Na parte norte temos a bacia do rio Trombetas, rio Paru, rio Jari no Pará/Amapá, oriundos do Planalto das Guianas. Na parte nordeste temos a da bacia do rio Tocantins e rio Guamá, que desembocam na baía de Marajó. • No Amapá temos a bacia do rio Jari fazendo a linha divisória com o estado do Pará, a bacia do rio Araquari e a bacia do rio Oiapoque, que separa o Amapá da Guiana Francesa. • Além dessas importantes bacias, vale destacar a Ilha do Marajó como a maior ilha fluvial/marítima do mundo, situada na foz do rio Amazonas e rio Pará, sendo de grande importância pela sua biodiversidade no estado. Ver Guitarrara ([2023]), Pará (2012) e Bacia do Rio Amazonas, Wikipedia (Bacia..., 2022).

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 12 Amazonas: com uma geografia rica, diversa e dinâmica, o Estado do Amazonas conta com a maior rede hidrográfica do país, clima tropical úmido, maior área de Floresta Amazônica preservada, regime de chuvas o ano todo, e ampla área de relevo fluvial. É composto por 62 municípios, com uma área de 1.559.167,878 km². A influência indígena é a mais acentuada, manifestando-se na tradição oral, no artesanato e na culinária. Manaus é a cidade que abriga a maior população urbana de indígenas do país. São cerca de 30 mil indígenas de 47 povos que falam 16 línguas e se articulam em 100 organizações. Na cultura, o Amazonas possui um Festival da Canção, chamado FECANI, em Itacoatiara, e o duelo de bois-bumbá de Parintins, demonstrando a diversidade artístico-cultural da Amazônia Brasileira. Roraima: Estado criado em 1988, possui uma rica diversidade cultural, com mais de onze etnias. As populações indígenas sofrem com as invasões e saques de suas terras, o que gera muitos conflitos, violência e morte de lideranças, principalmente com a frente do garimpo e do agronegotóxico. A demarcação da TI Raposa Serra do Sol é um símbolo da tentativa de reparação histórica do governo brasileiro com seus povos. O clima é equatorial com formações vegetais de Floresta Amazônica e Cerrado. Os principais rios que banham o estado são: Branco, Uraricoeira, Catrimani, Mucajaí, Tacutu e Anauá.

AMAZÔNIA 13 Principais ameaças entre RO e AC: hidrelétricas, hidrovia, madeireiras, expansão da agropecuária associada a agrotóxicos, garimpos, invasão de terras protegidas, precarização da vida urbana. Fonte: Fotos com drone operado por Iremar Ferreira. DESAFIOS E AMEAÇAS

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 14 As principais ameaças no PA/AP aos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais são hidrelétricas, mineração, agronegócio, agrotóxicos, garimpos, desmatamento, violência no campo e nas cidades. Plantio de soja na região de Santarém (PA) Foto: Carlos Alves Porto da Bunge, Miritituba (PA) Foto: Mauricio Torres Usina de Belo Monte durante a construção Foto: Agência Senado. Garimpo no Tapajós Foto: Oldair Lamarque/Agência Pública Barragem de rejeitos da MRN Foto: Carlos Penteado

AMAZÔNIA 15 O AGRO QUE MATA E DESMATA NO CORAÇÃO DA AMAZÔNIA O AGRO QUE MATA E DESMATA NO CORAÇÃO DA AMAZÔNIA A Amazônia e seu ecossistema situado no centro/leste dessa região, tem sido alvo de intensa exploração de seus recursos naturais. Já são visíveis os impactos nos territórios amazônicos causados pelo agronegócio e a monocultura da soja e do milho, afetando toda a biodiversidade da floresta, contaminando seus igarapés e afastando ou levando à extinção muitas espécies de animais e plantas. Os produtores familiares dessa região também são afetados pelo agrotóxico e o êxodo rural, que expulsa muitas famílias para as grandes cidades, causando um problema tanto ambiental como social, além de viver das ameaças das hidrelétricas nesta parte da Amazônia. Desenho e arte: Carlos Alves (2008).

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 16 DESAFIOS E OU AMEAÇAS NO AMAZONAS No Amazonas, as principais ameaças são: garimpos em terras indígenas; crime organizado; assassinatos de lideranças indígenas nas áreas urbanas e no campo; desemprego; falta de moradia e água potável; violência contra mulher (feminicídio). As violações de direitos na região do Baixo Madeira, nos municípios de Nova Olinda do Norte e Borba (AM), geraram o episódio “Massacre do Rio Abacaxis” ocorrido em agosto de 2020, vitimando quatro ribeirinhos e dois indígenas Munduruku. As populações são vítimas daqueles que deveriam protegê-las. Em Roraima, o Povo Yanomami tem sido vítima de um genocídio declarado, com a ação garimpeira que destrói todos os modos de vida no coração da floresta amazônica e com a omissão dos governos, de modo especial entre os anos 2017 e 2022. Os desafios seguem sendo enfrentados pelo atual governo a partir de janeiro de 2023. Ver Lobato (2021). Foto: Arquivo SARES

AMAZÔNIA 17 RECA – REFLORESTAMENTO ECONÔMICO CONSORCIADO E ADENSADO Em 1989, foi oficialmente fundado o RECA – Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado. Uma cooperativa formada por mais de trezentas famílias de agricultores. “Temos muito orgulho das nossas origens e de cada uma das famílias de agricultores que cuidam dos Sistemas Agroflorestais. Atualmente nos dividimos em dez grupos de cooperados na região e temos grande capacidade de produção durante todo o ano”. O RECA está na divisa entre Rondônia, Acre, Amazonas e Bolívia. Fica a 360 km de Porto Velho, capital de Rondônia, e a 150 km de Rio Branco, capital do Acre. Nossa produção é enviada para todo o Brasil e exterior, sempre garantindo a qualidade dos produtos. Uma boa prática, exemplo para toda a região de como produzir com sustentabilidade convivendo com a Amazônia. Ver Reca (2020). BOAS PRÁTICAS

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 18 BOMBEAMENTO DE ÁGUA COM ENERGIA SOLAR (RO) Por iniciativa do Comitê de Defesa da Vida Amazônica na bacia do rio Madeira (Comvida), parte do Núcleo RO do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental - várias comunidades indígenas e extrativistas foram beneficiadas com sistemas fotovoltaicos para bombear água e atender processos produtivos e comunitários. Entendemos que a Transição Energética Justa (TEP), inclusiva e popular passa pela formação de nova consciência de que não precisamos barrar rios para gerar eletricidade, pois a Mãe Terra nos oferece energias suficientes para uma Vida inclusiva. Tudo está interligado. Água é Vida! Fotos: Iremar Ferreira

AMAZÔNIA 19 PROJETO TAPAJÓS SOLAR “UMA ENERGIA BOA PARA SALVAR O NOSSO RIO” O projeto é uma realização do Movimento Tapajós Vivo (MTV) em parceria com o Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), Cáritas Brasileira, com apoio de MISEREOR, obra episcopal da Igreja Católica da Alemanha para a cooperação ao desenvolvimento. O projeto tem o objetivo de promover o uso de energia solar descentralizada na bacia do rio Tapajós em contraponto à construção de novas hidrelétricas na Amazônia. Desde 2019 o projeto atendeu a comunidades da área urbana de Santarém e área rural do município, com a solarização de espaços comunitários, associações de bairro, microssistema de água, padarias comunitárias e centro de pastoral. Ver Movimento Tapajós Vivo (2021a) e Projeto Tapajós Solar (MTV, 2021b). Fonte: Movimento Tapajós Vivo, Santarém (PA)

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 20 INICIATIVAS DE AGROECOLOGIA E MANEJO DA FLORESTA Na região Oeste de Pará, entidades de representação de agricultores e extrativistas desenvolvem iniciativas coletivas para produção de alimentos, remédios tradicionais, artesanato e vários outros produtos da biodiversidade amazônica, incentivando boas práticas de cultivo e manejo não madeireiro, preservando a floresta. Entre os ganhos estão a melhoria da alimentação e renda e a valorização do protagonismo das mulheres e jovens. Dentre estas iniciativas, podemos citar o trabalho das associações de mulheres trabalhadoras rurais e as cooperativas da floresta, a exemplo da COOPRASU, que produz polpas de frutas na RESEX Tapajós-Arapiuns. Ver Cooperativa Agroextrativista de Surucuá (COPRASU, 2024).

AMAZÔNIA 21 PROJETO DE MANEJO DO PIRARUCU (SAPOPEMA) Benefícios do Manejo Ecológicos: é uma ferramenta de conservação do pirarucu no ecossistema de várzea. Além disso, contribui para a proteção de outras espécies, como é o caso dos quelônios e diversos peixes. Econômicos: é uma prática de uso sustentável que traz bons resultados para as populações que têm o pescado como principal fonte de sobrevivência. Pois o manejo gera maior produtividade pesqueira nos ambientes aquáticos e renda aos pescadores. Sociais: estimula a organização social, promove capacitações aos pescadores e possibilita o investimento em locais de uso coletivo, o que agrega maior capital social às comunidades. O projeto é iniciativa da ONG Sapopema e comunidades que atuam na região do Baixo Amazonas desde 2002, com trabalho no manejo sustentável do pescado, com participação de parceiros como a colônia de pescadores Z20 e a MOPEBAM (Movimento dos Pescadores do Baixo Amazonas). Manejo do pirarucu. Fonte: Sociedade para a Pesquisa e Proteção do Meio Ambiente (Sapopema, 2018).

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 22 BARREIRA DE SEGURANÇA SANITÁRIA (AM) O Projeto é uma iniciativa da paróquia do município de Maués, no Amazonas, onde vivem em algumas áreas os povos indígenas Sateré Mawé que, assim como os demais povos indígenas, sentem-se inseguros diante do trânsito de não indígenas dentro do território. A Barreira de Segurança e Vigilância Sanitária foi criada em 2020 em plena pandemia de covid19, nas proximidades do município de Maués, ligando dois rios, o Marau e o Urupadi, com o objetivo de impedir a entrada de álcool e outros tipos de entorpecentes que estão colocando em risco a vida de indígenas e, de modo particular, da juventude. Fotos: arquivos do SARES

AMAZÔNIA 23 DEFESA DAS ÁGUAS (AM) O Fórum das Águas surgiu em 2012, é um coletivo formado por várias lideranças que atuam na defesa da água potável, dos rios e igarapés, ligadas a entidades e movimentos sociais em Manaus, entre eles o Movimento SOS Encontro das Águas, que é formado por ativistas que atuam na defesa do tombamento do Encontro das Águas dos Rio Negro e Solimões, que está ameaçado pela construção de portos. POLINIZADORES DA ECOLOGIA INTEGRAL O curso de extensão Polinizadores da Ecologia Integral, que dialoga com os temas do processo de Formação Continuada e Multiplicadora do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS) e SARES, é destinado a capacitar pessoas, além de desenvolver mediadores socioambientais para atuarem como polinizadores(as) das temáticas apresentadas em torno do tema Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental, replicando a informação adquirida. Tem seis anos de caminhada no Amazonas e Roraima, distribuindo o pólen do Bem Viver. Fotos: arquivos do SARES

O Bioma Amazônia, em toda a sua complexidade biológica e cultural, tem o potencial de nos apresentar uma imensa gama de possibilidades de investigação, reflexão e experiências de interdependência com as formas de vida nele contidas, capaz de transformar a percepção do ser humano como parte importante desta frágil e complexa teia. No entanto, esse Corredor Biocultural encontra-se ameaçado por vasta quantidade de projetos de morte, que ferem a dignidade humana e o Direito da Natureza, sendo urgentes e necessárias ações que garantam a vida dos povos da floresta, das águas, do campo e das cidades, dos seus territórios e dos demais seres que o compõem.

AMAZÔNIA 25 Sugestões para aprofundar os conteúdos 1. Se você já identificou na região em que vive algum corredor biocultural, faça um desenho/mapa destacando essa diversidade de vida. Convide outras pessoas para o exercício, e a atividade ficará muito interessante. 2. Diante das boas práticas aqui apresentadas, que iniciativas você identifica no seu local ou região que conectam com o cuidado com a Mãe Terra e que geram qualidade de Vida? 3. O que podemos construir como sociedade consciente, que possa fortalecer essas lutas de resistência diante de tantas ameaças ao território e seus povos? VAMOS REFLETIR COMECE A FAZER A SUA PARTE HOJE!

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AMAZÔNIA 27 O Corredor Biocultural Amazônia brasileira se conecta com diversos países da bacia Amazônica, entre eles: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Suriname, Guiana e Guiana Francesa, cada um com suas especificidades e similaridades, onde os rios são os conectores de Vidas. Dentro do Brasil se conecta com diversas outras especificidades, entre elas as regiões de Cerrado e Pantanal. Entretanto, com os serviços ecológicos, como maior formador de chuvas, contribui igualmente com demais: Caatinga, Mata Atlântica, Pampa e Zona Costeira. Manter esses corredores de vida em condições saudáveis social, cultural e ambientalmente significa manter o equilíbrio da Mãe Terra para o Bem Viver. INTERLIGAÇÃO COM OS DEMAIS BIOMAS

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 28 DICAS: FILMES, LIVROS, MÚSICAS E OUTRAS PRODUÇÕES BACIA DO RIO AMAZONAS. In: Wikipedia: a enciclopédia livre. [São Francisco, CA, EUA: Wikimedia Foundation, 2022]. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Bacia_do_rio_Amazonas. Acesso em: 18 mar. 2024. COMISSÃO PASTORAL DA TERRA DE RONDÔNIA - BRASIL. Notícias da Terra, 2024. Disponível em: https://cptrondonia.blogs pot.com/. Acesso em: 18 mar. 2024. COMISSÃO PRÓ-INDÍGENAS DO ACRE (CPI-ACRE). Povos indígenas no Acre. CPI-Acre, Rio Branco/AC, 2023. Disponível em: https://cpiacre.org.br/povos-indigenas-no-acre. Acesso em: 18 mar. 2024. COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO DE SÃO PAULO (CPISP). Maior complexo de barragens de mineração da Amazônia. CPISP, [2022?]. Disponível em: https://cpisp.org.br/quilombolas-em-oriximina/luta-pela-terra/mineracao/barragens-de-rejeito/. Acesso em 18 mar. 2024. COOPERATIVA AGROEXTRATIVISTA DE SURUCUÁ (COOPRASU). COOPRASU, 2024. Disponível em: https://www.instagram. com/cooprasu_stm/followers/mutualOnly. Acesso em: 18 mar. 2024. FREIRE, José Ribemar Bessa. Curtindo Nimuendaju e o mapa das línguas. Taquiprati, Rio de Janeiro, 13 dez. 2015. Disponível em: https://www.taquiprati.com.br/cronica/1176-curtindo-nimuendaju-con-version-en-espa. Acesso em: 18 mar. 2024. GUITARRARA, Paloma. Amapá. UOL, Mundo Educação, ([2023?]). Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/amapa.htm. Acesso em: 18 mar. 2024. ILHA, Flávio. Ouro impõe ciclo de violência em “capital do garimpo” no Pará. UOL, São Paulo, 4 nov. 2015. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2015/11/04/ouro-impoe-ciclo-de-violencia-em-capital-do-ga rimpo-no-para.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 18 mar. 2024. INSTITUTO MADEIRA VIVO (IMV). Sem fronteiras no madeira. IMV, Blog, 25 out. 2023. Disponível em: https://semfronteirasnoma deira.blogspot.com/. Acesso em: 18 mar. 2024.

AMAZÔNIA 29 INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL (ISA). Categoria: povos indígenas em Rondônia. Povos indígenas no Brasil, Boa Vista/AC, 23 jul. 2018. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/pt/.Acesso em: 18 mar. 2024. LOBATO, Alícia. Massacre no rio Abacaxis: um ano sem respostas. Amazônia Real, 31 ago. 2021. Disponível em: https://ama zoniareal.com.br/massacre-no-rio-abacaxis/. Acesso em: 18 mar. 2024. MOVIMENTO TAPAJÓS VIVO (MTV). Página inicial. MTV, 2021a. Disponível em: https://tapajosvivo.blogspot.com. Acesso em: 18 mar. 2024. MOVIMENTO TAPAJÓS VIVO (MTV). Projeto Tapajós Solar oficializa entrega de energia solar em padaria das mulheres em Belterra. MTV, 23 ago. 2021b. Disponível em: https://tapajosvivo.blogspot.com/2021/08/projeto-tapajos-solar-oficiali za.html. Acesso em: 18 mar. 2024. NEVES, Eduardo Góes. Arqueologia Amazônica. São Paulo: Jorge Zahar, 2006. PARÁ. Secretaria de Estado de Meio Ambiente. Política de Recursos Hídricos do Estado do Pará. Belém: SEMA, 2012. Disponível em: https://www2.mppa.mp.br/sistemas/gcsubsites/upload/41/POLITICA_DE_RECURSOS_HIDRICOS_DO_ESTA DO_DO_PARA.pdf. Acesso em: 18 mar. 2024. PINTO, Zé. Devoção à Amazônia. Queen Mary University Of London, Londres, nov. 2002. Disponível em: http://www.landles s-voices.org/vieira/archive-05.php?rd=AMAZONDE497&ng=p&th=49&sc=1&se=0&cd=ARTINMOV039. Acesso em: 18 mar. 2024. PIVETTA, Marcos. Mais gente na floresta. Instituto Humanitas Unisinos (IHU), São Leopoldo/RS, 2 jun. 2018. Disponível em: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/188-noticias-2018/579558-mais-gente-na-floresta. Acesso em: 18 mar. 2024. PROJETO REFLORESTAMENTO ECONÔMICO CONSORCIADO E ADENSADO (RECA). Quem somos. Reca Amazônia, 2020. Disponível em: https://www.projetoreca.com.br/quem-somos/. Acesso em: 18 mar. 2024. REVISTA EXAME. O que aprender com o desastre de Belo Monte. Exame, 29 mar. 2021. Disponível em: https://exame.com/ colunistas/ideias-renovaveis/o-que-aprender-com-o-desastre-de-belo-monte/. Acesso em: 18 mar. 2024.

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 30 RIO IRIRÚ o rio Madeira antes e depois das hidrelétricas. Produzido por Comitê de Defesa da Vida Amazônica na Bacia do Rio Madeira (Comvida), 4 out. 2022. 1 vídeo (9 min). Publicado por Comvida. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=dY9P6AU1xxQ&t=146s. Acesso em: 18 mar. 2024. SCHAAN, Denise Pahl; RANZI, Alceu; BARBOSA, Antonia Damasceno. Geoglifos: paisagens da Amazônia Ocidental. Rio Branco: G. K. Noronha, 2010. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Geoglifos_paisagens_ da_amazonia_ocidental.pdf. Acesso em: 18 mar. 2024. SOCIEDADE PARA A PESQUISA E PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE (SAPOPEMA). Manejo do Pirarucu. Sapopema, 2018. Disponível em: http://www.sapopema.org/manejo-do-pirarucu. Acesso em: 18 mar. 2024.

APOIO REALIZAÇÃO Esta publicação foi possível graças ao apoio da Fundação Tinker

BIOMAS E CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL É absolutamente necessário usar o plural para expressar a realidade brasileira: existem sete biomas, e neles existem corredores bioculturais que interligam uns aos outros em uma imensa teia da vida, desenhando um rico mosaico marcado pela diversidade e a complementaridade. É um equívoco antropocêntrico afirmar que estes territórios geradores de tanta vida teriam origem apenas com a emergência da espécie humana. Tudo isso aconteceu bem antes da presença humana, de modo especial muito antes da presença de colonizadores europeus. Ao procurarmos conhecer nossa presença nos biomas, precisamos partir de um profundo agradecimento à generosidade da Terra que oportuniza todas as condições para que a vida floresça. Mas também devemos recordar que a humanidade é apenas uma pequena fração de abundância de vida gerada pela Natureza. Como destacamos nos sete volumes desta Coleção, em todos os biomas e seus corredores bioculturais estão sendo travados enfrentamentos entre aqueles que vivem em harmonia com a Natureza, contra aqueles que percebem a Natureza apenas como recursos a serem explorados para servir ao sistema econômico e a fome gananciosa dos poderosos. Estamos percebendo que este sistema está levando a Terra ao esgotamento, afetando diretamente não apenas a vida humana, mas todas as formas de vida, em todos os biomas. Enchentes, secas extremas, recordes de calor, profunda perda histórica das coberturas vegetais nativas, aumento exponencial da lista de animas ameaçados de extinção, são apenas alguns dos exemplos de que o modo de vida hegemônico está adoecendo todo o Sistema-Terra. A interligação entre os biomas pelos corredores bioculturais é o que mantem em renovação constante a vida na Mãe Terra. Tudo está interligado em uma profunda Ecologia Integral. Por isso, o objetivo central dessa publicação é a valorização das práticas populares que cuidam da vida das pessoas e de toda a comunidade de vida da Mãe Terra. Tais práticas representam formas diferenciadas de viver e se relacionar com a Natureza e quando necessário traçam estratégias para denunciar, enfrentar e proteger a vida nos biomas. A Coleção Corredores Bioculturais do Brasil é uma iniciativa do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) e do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), apoiados por dezenas de organizações, coletivos e lideranças que ilustram neste material os principais desafios e as principais estratégias de defesa e promoção da vida, em cada bioma. Luiz Felipe Lacerda Ivo Poletto Casa Leiria

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