Caatinga

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL CAATINGA

Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) Provincial da Província dos Jesuítas do Brasil Pe. Mieczyslaw Smyda, S. J. Secretário para Promoção da Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil e Diretor do OLMA Pe. Jean Fábio Santana, S. J. Secretário Executivo Luiz Felipe Barboza Lacerda O Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS) é uma articulação de Entidades, Pastorais e Movimentos Sociais que atuam em rede para gerar consciência crítica e enfrentamento em relação a tudo que causa o aquecimento da Terra e vai tornando mais perigosas as mudanças climáticas, de modo especial para os povos, comunidades e pessoas que as sociedades capitalistas jogam na marginalização e na miséria. Atua em âmbito nacional e se faz presente nos biomas e territórios por meio das suas 36 entidades membros e de outras entidades parceiras, promovendo a convivência com cada bioma e ecossistema por meio de práticas que anunciam e vão construindo sociedades de Bem Viver. Comitê de Energia Renovável do Semiárido (CERSA) Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS) Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS - NE)

Cícero Félix José de Anchieta de Assis José Dias Campos José Júnior Karajá José Moacir dos Santos Renalle Benício (Organizadores) Casa Leiria São Leopoldo - RS 2024 Caatinga Coleção Corredores Bioculturais do Brasil

Corredores Bioculturais do Brasil Caatinga Textos: Cícero Félix, José de Anchieta de Assis. José Dias Campos, José Júnior Karajá, José Moacir dos Santos e Renalle Benício. Ilustrações: Todas as fotos que ilustram o texto foram fornecidas pelas organizações participantes. O mapa da Caatinga foi obtido no site da EMBRAPA. © Direitos reservados Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS) Ficha catalográfica Bibliotecária: Carla Inês Costa dos Santos – CRB: 10/973 É proibida a reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio, sem a permissão escrita do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental e dos coordenadores do Projeto. C111 Caatinga [recurso eletrônico]. / organização Cícero Félix…[et. al.] ; ilustrações da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). – São Leopoldo: Casa Leiria, 2024. (Coleção Corredores Bioculturais do Brasil). Disponível em: <http://www.guaritadigital.com.br/casaleiria/ olma/corredoresbioculturais/caatinga/index.html> Direitos reservados: Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA); Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS). ISBN 978-85-9509-119-1 1. Ecologia integral – Biodiversidade –Brasil, Nordeste. 2. Biodiversidade – Brasil, Nordeste – Caatinga. 3. Caatinga – Corredores Bioculturais. I. Félix, Cícero (Org.). II. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (il.). CDU 261.9:574(812/813) DOI: https://doi.org/10.29327/5407040

Sumário 06 Eu e o sertão 07 Apresentação 10 Boas práticas 18 Vamos refletir 19 Interligação com os demais biomas

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 6 Sertão, argúem te cantô, Eu sempre tenho cantado E ainda cantando tô, Pruquê, meu torrão amado, Munto te prezo, te quero E vejo qui os teus mistéro Ninguém sabe decifrá. A tua beleza é tanta, Qui o poeta canta, canta, E inda fica o qui cantá. Patativa do Assaré EU E O SERTÃO

CAATINGA 7 O Bioma Caatinga, de modo geral, é percebido como um lugar árido, seco e empobrecido, e até mesmo desértico, apesar de ser definido como semiárido, com precipitações anuais entre 600 e 700 mm. Pouco se conhece sobre a diversidade de sua fauna e flora, bem como de sua dinâmica natural de armazenar água e de adaptação das espécies animais e vegetais que aí habitam. A ocupação humana do bioma ao longo dos últimos séculos, com desmatamentos, barramento de rios e córregos, pecuária e mais recentemente mineração e produção de energia, mudou a paisagem local, quebrando sua dinâmica construída ao longo de milênios. Apesar disso, os “sertanejos” ou “caatingueiros”, convivem nesse bioma buscando soluções de preservação e recuperação ambiental, com criatividade e cuidados com a natureza, como veremos a seguir. CAATINGA: TERRITÓRIO DO BEM VIVER A Caatinga é um Bioma exclusivamente brasileiro, com biodiversidade adaptada às altas temperaturas e períodos longos de estiagem. Localizado na região Nordeste, se estende por uma área de 1.127.953 km², e abrange todos os estados da região – AL, BA, CE, MA, PE, PB, RN, PI, SE – e o norte de MG, guardando uma flora e fauna rica em espécies. O nome “Caatinga” tem origem Tupi-Guarani, significa “mata branca”. Na estação seca, quando as folhas caem, predominam os troncos brancos e acinzentados das árvores e arbustos na paisagem árida deste período. De um modo geral, quando falamos da Caatinga imaginamos um cenário árido, com cactos, pouca diversidade biológica relacionada a fauna e a flora, como também de pobreza. Por outro lado, a Caatinga oferece recursos biológicos e econômicos significativos para seus habitantes, a região e o país. Rico em biodiversidade, registram-se 4.508 espécies APRESENTAÇÃO

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 8 de plantas, 153 de mamíferos, 107 de répteis, 49 de anfíbios, 510 de aves e 185 de peixes (MMA, 2016). Possui uma variedade de vegetações classificadas como fitofisionomias (fito = planta e fisionomia = aparência, o aspecto visual da vegetação) e, por isso, também as denominamos Caatingas, no plural. Aproximadamente 28 milhões de pessoas vivem no campo e nas cidades deste Bioma, adaptando-se aos seus períodos climáticos, seus diferentes ambientes, e se relacionando com seus recursos naturais a partir de suas convivências e saberes construídos ao longo de séculos, por seus antepassados e povos ancestrais, os Povos Indígenas e Africanos. Os encontros de Povos também resultaram em trocas culturais, devoções religiosas/devocionais. Cristianismo católico popular, com devoções messiânicas como a Pe. Cícero Romão, e a de S. José, que anuncia o período chuvoso, os Terreiros Indígenas e seus Encantos de Luz, a tradição afro-brasileira, tendo nos Orixás a representação cósmica da natureza, dialogam em um universo simbólico e harmonioso com a vida da Caatinga, onde o ambiente da fauna e flora são consagrados. Os negócios eram tão rentosos que precisavam de mais gado e terras para suprir as demandas da população que crescia, principalmente com a vinda de escravos. Partiram em direção ao Sertão, à Caatinga. Nesse caminho, foram matando e escravizando os indígenas, desmatando e destruindo esse bioma para formar pastagens para o gado. Nos dois últimos séculos, as populações nativas, indígenas resistentes e descendentes de escravos, construíram formas de convivência harmoniosa com o semiárido, conhecendo sua flora e fauna, adaptando-se aos períodos chuvosos e secos, extraindo e coletando das matas espécies para a alimentação, cura, construção de moradias e outras necessidades. Caatinga em tempos de chuva

CAATINGA 9 A derrubada constante das matas nativas da caatinga acentuou os períodos de seca, natural em regiões semiáridas, bem como a capacidade de retenção das águas das chuvas nos solos, pequenas lagoas e córregos. A apropriação das terras por latifúndios e fazendas no século passado expulsou estas populações das terras ocupadas, tornando-as empregados dessas apropriações violentas, sem que pudessem viver com autonomia e liberdade para plantar, caçar, pescar, coletar e, com isso, prover suas necessidades vitais. Nas últimas décadas, novos empreendimentos surgiram na Caatinga: mineração, produção de energia sustentável, agronegócio irrigado. A concentração de terras permanece para poucos, em detrimento da maioria. A convivência com o semiárido exige novas respostas e adaptações aos novos cenários. O modelo de desenvolvimento predatório em todo o bioma vem promovendo a supressão da vegetação, a perda da fertilidade dos solos, a poluição dos recursos hídricos, entre outros fatores, que resultam em Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD). As águas são disputadas por novos empreendimentos, e a Caatinga continua sendo derrubada para dar lugar a passagem de máquinas mineradoras e estradas para escoar a produção, água e energia. Os grandes projetos solares e eólicos consomem grandes quantidades de água para sua construção e manutenção, bem como a derrubada da mata para a construção de estradas e linhas de transmissão. A agricultura irrigada retira águas de barragens e rios, como o São Francisco, reduzindo sua vazão, priorizando lucros, contaminando suas águas com agrotóxicos e insumos, afetando drasticamente a vida das populações de sua bacia. A recuperação de áreas em processo de desertificação é importante para a construção de novas possibilidades de convivência com a Caatinga e o Bem Viver das populações sertanejas neste Bioma. Caatinga em tempos de seca

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 10 ASA - CAPTURA E MANEJO DAS ÁGUAS NA CAATINGA: CISTERNAS A Caatinga, como região semiárida, tem um período de chuvas concentrado e curto. Por isso torna-se necessário armazenar a água para ser utilizada ao longo do período de estiagem. O Programa Cisternas tornou-se política pública e começou a ser executado em 2003, inspirado no Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido: Um Milhão de Cisternas, criado pela ASA, em 1999. Esse Programa tem como objetivo mudar a paisagem e a condição socioeconômica dos povos do Semiárido brasileiro, tornando-se uma política que se expandiu para outros biomas, inclusive a Amazônia. Em vinte anos, foram construídas mais de 1,14 milhões de cisternas em todo o país, sendo que até 2016 já tinham sido entregues mais de um milhão de unidades, colaborando com o Bem Viver de milhões de nordestinos que vivem no bioma da Caatinga. Alimentos saudáveis BOAS PRÁTICAS

CAATINGA 11 Cisternas-calçadão Ao longo dos anos o Programa se ajustou às realidades locais, expandindo sua capacidade de coleta, usos e armazenamento. As cisternas-calçadão são um bom exemplo disso. Tem um calçadão de 200 m² de concreto para captação da água da chuva, levando a um reservatório com capacidade de 52 mil litros.

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 12 Essa tecnologia tem como objetivo potencializar a oferta hídrica aos “quintais produtivos”, para a produção de alimentos, plantas medicinais, jardins e a criação de animais de pequeno porte, como galinhas, porcos e outros. Nos períodos de estiagem o calçadão é utilizado para secagem de produtos como feijão, milho, goma, a casca e amaniva damandioca para passar na forrageira, que serve de alimento para os animais e para outros usos. As cisternas-calçadão incentivam agricultores/as a implantarem os quintais produtivos, ao redor das casas, em geral geridos pelas mulheres, e possuem uma alta capacidade produtiva e reprodutiva, utilizando práticas agroecológicas. IRPAA – RECAATINGAMENTO/FUNDO DE PASTO Recaatingamento é uma metodologia de mitigação dos efeitos da desertificação e do aquecimento global. Visa a manutenção dos serviços ecossistêmicos associados, como a regulação climática, o sequestro e fixação de carbono e a conservação e recuperação do bioma Caatinga, que é a base da vida, produção e reprodução das comunidades agropastoris e extrativistas de Fundo de Pasto. A proposta de Recaatingamento teve início com a observação e preocupação das mulheres das comunidades que se dedicam a coletar frutos na caatinga, preocupadas com a possibilidade de extinção de plantas essenciais para a manutenção de seu modo de vida, a exemplo do Umbuzeiro. As mulheres observavam que as fruteiras estão envelhecidas e que não há plantas novas, havendo, dessa forma, a necessidade de reposição e ampliação das espécies frutíferas. As técnicas desenvolvidas buscam valorizar ainda mais atividades tradicionalmente femininas, como beneficiamento de frutas, quintais produtivos e outras, que eram desvalorizadas frente as atividades masculinas, principalmente a criação de cabras, carneiros e vacas de forma extensiva nos fundos de pasto. O Recaatingamento contribui para o fortalecimento da resiliência climática das comunidades, proporcionando a manutenção da Caatinga em pé, como de fonte de alimento, de renda, de espiritualidades e de identidade cultural. As Comunidades Tradicionais de Fundo de Pasto são legalmente fundadas em títulos ou posse imemorial, que tiveram a sua existência reconhecida pela Constituição baiana de 1988, no parágrafo único do Artigo 178. Suas principais características são: o uso

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COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 14 comunitário de vastas áreas de caatinga, podendo chegar a 3.000 hectares, destinadas à criação de animais e ao extrativismo não madeireiro. As famílias extensas que habitam estas áreas têm fortes laços de parentesco e de compadrio. Cada família tem uma pequena área de terra onde cultiva alimentos para o consumo, pasto para os animais e culturas anuais para o mercado. A maior parte do território é de uso coletivo, sob a gestão de uma associação comunitária. A principal atividade econômica é a criação extensiva de cabras e ovelhas. Comunidades com essas características existem em todos os estados do Nordeste nas áreas da Depressão Sertaneja, o Sertão, onde por conta da grande irregularidade das chuvas e a precipitação média de até 500 milímetros por ano, a agricultura comercial tem fortes limitações. Hoje, apenas na Bahia essas comunidades são reconhecidas legalmente como comunidade tradicional. O método de intervenção do Recaatingamento consiste em: • identificação e isolamento das áreas comunitárias degradadas, implantação de ações hidroambientais; • formulação e implantação de planos de manejo para conservação das áreas em bom estado; • implementação de ações produtivas sustentáveis para a diversificação da renda; e • plano de manejo apropriado dos animais para adequação à capacidade de suporte da Caatinga. Iniciado em 2009 com sete comunidades, hoje, 2023, são 31 comunidades recaatingueiras envolvendo diretamente novecentas famílias. Como resultado, alcançou-se em 2022, a conservação de 20.000 hectares e a recuperação de 2.000 hectares de Caatinga.

CAATINGA 15 Preservando, em média, 24.000 pés de umbuzeiros; introduzindo 2.000 novos pés de umbuzeiros; 31 áreas de incremento ambiental e econômico a partir do uso florestal diversificado e não madeireiro da Caatinga; evitar a liberação de 650.000 toneladas de carbono e sequestrar de 65.000 toneladas de carbono da atmosfera. A proposta de Recaatingamento teve início com a observação e preocupação das mulheres das comunidades que se dedicam a coletar frutos na caatinga, preocupadas com a possibilidade de extinção de plantas essenciais para a manutenção de seu modo de vida, a exemplo do Umbuzeiro. As mulheres observavam que as fruteiras estão envelhecidas e que não há plantas novas, havendo, dessa forma, a necessidade de reposição e ampliação das espécies frutíferas. As técnicas desenvolvidas buscam valorizar ainda mais atividades tradicionalmente femininas, como beneficiamento de frutas, quintais produtivos e outras, que eram desvalorizadas frente as atividades masculinas, principalmente a criação de cabras, carneiros e vacas de forma extensiva nos fundos de pasto. O Recaatingamento contribui para o fortalecimento da resiliência climática das comunidades, proporcionando a manutenção da Caatinga em pé, como de fonte de alimento, de renda, de espiritualidades e de identidade cultural. CERSA/CEPFS Transição energética e convivência com o semiárido: energia para o “Bem Viver”! No Sertão da Paraíba, em Maturéia, município com altos níveis de radiação solar, o CERSA – Comitê de Energia Renovável do Semiárido e o CEPFS – Centro de Educação Popular e Formação Social se uniram para implantar uma experiência viável de geração de energia descentralizada, cooperativista e solidária, uma energia sustentável: a Cooperativa de Compartilhamento de Energia Solar Bem Viver. Entre as inovações, apresenta um sistema para recolher água da chuva a partir das placas fotovoltaicas, compreendendo que o convívio com o Semiárido deve visar também a segurança hídrica. O sistema foi montado em 2022 e coletou 16 mil litros de água da chuva, armazenando-os na cisterna. O esforço auxilia a área experimental do CEPFS, que não terá que dividir seus recursos hídricos para o funcionamento da usina. O CEPFS é uma referência de ações para a convivência com o Semiárido na região, especialmente em segurança hídrica e alimentar. Recebe estudantes de escolas locais, dos municípios circunvizinhos e de outros territórios para conhecerem as experiências e assim despertar novas possibilidades

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CAATINGA 17 de vida no Bioma Caatinga. A usina solar é um projeto que agrega diversas características econômicas, ambientais e sustentáveis, promovendo a importância da popularização dessa forma de energia que vem do Sol. Essa experiência abre portas para outras possibilidades, como a implantação de poços artesianos para o abastecimento de água através de bombas, assim como grupos de mulheres coletoras de frutos sazonais, como umbu, cajá e cajarana, que podem processar e embalar polpas destes frutos, congelando-os em freezers para comercializar ao longo do ano, gerando segurança alimentar e renda para inúmeras famílias da Caatinga paraibana. Realizamos desta forma a transição energética descentralizada, cooperativista e solidária. MAIS VALE A CAATINGA EM PÉ DO QUE NO CHÃO! A Caatinga tem um imenso potencial para a conservação de serviços ambientais e bioprospecção que, se explorados de forma sustentável, serão de grande importância para as populações camponesas. Assim como nas demais florestas, a conservação da vegetação nativa evita a emissão do gás carbônico (CO2), e o Recaatingamento de áreas degradadas tem potencial para o sequestro e a fixação de carbono da atmosfera, diminuindo o efeito estufa e o aquecimento global, que vem acelerando o aquecimento de planeta e provocando mudanças climáticas, que afetam a vida de milhões de brasileiros. Traz mais benefícios ambientais, como: a conservação da água, do solo e da biodiversidade. A biodiversidade da caatinga possibilita diversas atividades econômicas voltadas para fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nos ramos farmacêutico, de cosméticos, químico e de alimentos. A Caatinga “em pé” é fonte de matérias primas como frutos silvestres, forragem, fibras e plantas medicinais, que são essenciais para o sustento das comunidades tradicionais, e pode, através do uso sustentável, garantir o bem-estar e a permanência das famílias no campo. O Bem Viver dos Sertanejos e Sertanejas!

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 18 1. Vocês conheciam a Caatinga como foi apresentada aqui? 2. Quais os aspectos da Caatinga que mais lhes chamaram a atenção? 3. Como veem os processos históricos de derrubada da Caatinga e os cenários atuais de degradação? 4. Já conheciam as alternativas/soluções propostas? 5. Nosso diálogo contribuiu para uma nova percepção sobre o Bioma Caatinga? VAMOS REFLETIR COMECE A FAZER A SUA PARTE HOJE!

CAATINGA 19 Como pode ser visto no mapa, o Bioma Caatinga, dada a sua extensão, se encontra com outros biomas ao seu redor. Ao Leste, desde o baixo sul da Bahia até a Paraíba, faz limites com o Bioma Mata Atlântica, formando uma zona de transição semiúmida, bastante devastada para o plantio de cana de açúcar. Ao Norte, nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí, faixas da Caatinga chegam até o Bioma Zona Costeira/Marítima. Ao Oeste, a Caatinga, em sua maior parte, se encontra como Cerrado, a “caixa d’água” do Brasil, onde, em Minas Gerais, estão as nascentes do rio São Francisco, o “Belo Chico”, que fornece água e vida para suas populações, ao longo de 2.800 km de extensão, até desembocar no Oceano Atlântico, entre os estados de Sergipe e Alagoas. Desta maneira, os diversos Biomas que compõem a paisagem natural do Brasil demonstram que estão interligados, de forma não apenas física, mas também cultural, onde povos, águas, matas, florestas e semiárido se encontram de forma harmoniosa e complementar no ventre da Mãe Terra! INTERLIGAÇÃO COM OS DEMAIS BIOMAS

COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 20 DICAS: FILMES, LIVROS, MÚSICAS E OUTRAS PRODUÇÕES ARTICULAÇÃO SEMIÁRIDO BRASILEIRO (ASA). ASA, Recife/PE, [2024?]. Disponível em: https://www.asabrasil.org. br/. Acesso em: 19 mar. 2024. ASSOCIAÇÃO CAATINGA. Associação Caatinga, Fortaleza/CE, [2024?]. Disponível em: https://www.acaatinga.org.br/nos sa-reserva/. Acesso em: 19 mar. 2024. CENTRO DE EDUCAÇÃO POPULAR E FORMAÇÃO SOCIAL (CEPFS). CEPFS, Teixeira/PB, [2024?]. Disponível em: https://cepfs. org.br/. Acesso em 19 mar. 2024. COMITÊ DE ENERGIAS RENOVÁVEIS DO SEMIÁRIDO (CERSA). CERSA, [2024?]. Disponível em: https://cersa.org.br/. Acesso em 19 mar. 2024. COSTA, Tiago Pereira da. A convivência com o semiárido como paradigma sustentável na perspectiva do bem viver. Revista de Educação da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Petrolina/PE, v. 7, n. 12, p. 118-139, 4 abr. 2017. Disponível em: https://www.periodicos.univasf.edu.br/index.php/revasf/article/view/26/34. Acesso em: 19 mar. 2024. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA(EMBRAPA). Bioma Caatinga. Embrapa, Brasília/DF, 21 jan. 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/tematicas/bioma-caatinga. Acesso em: 19 mar. 2024. INSTITUTO REGIONAL DA PEQUENA AGROPECUÁRIA (IRPAA). IRPAA, Juazeiro/BA, [2024?]. Disponível em: https://www.irpaa. org/. Acesso em: 19 mar. 2024. SANTOS, José Moacir dos; SANTOS, Luis Almeida. Experiências de Recaatingamento no Semiárido Brasileiro. Juazeiro, BA: Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada, 2019. Disponível em: https://irpaa.org/publicacoes/32/cartilhas/experiencias-de-recaatingamento-no-semiarido-. Acesso em: 9 abr. 2024. VALE, João do. O projeto colonial-capitalista, a invenção da seca e algumas experiências de resistência no sertão do nordeste. 2021. 182 f. Tese (Doutorado em Sociologia e Direito) – Programa de Pós-graduação em Sociologia e Direito, Universidade Federal Fluminense, Niteroi/RJ, 2021. Disponível em: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/ consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popup=true&id_trabalho=10905993. Acesso em 19 mar. 2024.

CASA LEIRIA Rua do Parque, 470 São Leopoldo-RS Brasil casaleiria@casaleiria.com.br

APOIO REALIZAÇÃO Esta publicação foi possível graças ao apoio da Fundação Tinker

BIOMAS E CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL É absolutamente necessário usar o plural para expressar a realidade brasileira: existem sete biomas, e neles existem corredores bioculturais que interligam uns aos outros em uma imensa teia da vida, desenhando um rico mosaico marcado pela diversidade e a complementaridade. É um equívoco antropocêntrico afirmar que estes territórios geradores de tanta vida teriam origem apenas com a emergência da espécie humana. Tudo isso aconteceu bem antes da presença humana, de modo especial muito antes da presença de colonizadores europeus. Ao procurarmos conhecer nossa presença nos biomas, precisamos partir de um profundo agradecimento à generosidade da Terra que oportuniza todas as condições para que a vida floresça. Mas também devemos recordar que a humanidade é apenas uma pequena fração de abundância de vida gerada pela Natureza. Como destacamos nos sete volumes desta Coleção, em todos os biomas e seus corredores bioculturais estão sendo travados enfrentamentos entre aqueles que vivem em harmonia com a Natureza, contra aqueles que percebem a Natureza apenas como recursos a serem explorados para servir ao sistema econômico e a fome gananciosa dos poderosos. Estamos percebendo que este sistema está levando a Terra ao esgotamento, afetando diretamente não apenas a vida humana, mas todas as formas de vida, em todos os biomas. Enchentes, secas extremas, recordes de calor, profunda perda histórica das coberturas vegetais nativas, aumento exponencial da lista de animas ameaçados de extinção, são apenas alguns dos exemplos de que o modo de vida hegemônico está adoecendo todo o Sistema-Terra. A interligação entre os biomas pelos corredores bioculturais é o que mantem em renovação constante a vida na Mãe Terra. Tudo está interligado em uma profunda Ecologia Integral. Por isso, o objetivo central dessa publicação é a valorização das práticas populares que cuidam da vida das pessoas e de toda a comunidade de vida da Mãe Terra. Tais práticas representam formas diferenciadas de viver e se relacionar com a Natureza e quando necessário traçam estratégias para denunciar, enfrentar e proteger a vida nos biomas. A Coleção Corredores Bioculturais do Brasil é uma iniciativa do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) e do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), apoiados por dezenas de organizações, coletivos e lideranças que ilustram neste material os principais desafios e as principais estratégias de defesa e promoção da vida, em cada bioma. Luiz Felipe Lacerda Ivo Poletto Casa Leiria

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