COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL PANTANAL
Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) Provincial da Província dos Jesuítas do Brasil Pe. Mieczyslaw Smyda, S. J. Secretário para Promoção da Justiça Socioambiental da Província dos Jesuítas do Brasil e Diretor do OLMA Pe. Jean Fábio Santana, S. J. Secretário Executivo Luiz Felipe Barboza Lacerda O Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS) é uma articulação de Entidades, Pastorais e Movimentos Sociais que atuam em rede para gerar consciência crítica e enfrentamento em relação a tudo que causa o aquecimento da Terra e vai tornando mais perigosas as mudanças climáticas, de modo especial para os povos, comunidades e pessoas que as sociedades capitalistas jogam na marginalização e na miséria. Atua em âmbito nacional e se faz presente nos biomas e territórios por meio das suas 36 entidades membros e de outras entidades parceiras, promovendo a convivência com cada bioma e ecossistema por meio de práticas que anunciam e vão construindo sociedades de Bem Viver.
Clóvis Vailant Isidoro Salomão Solange Ikeda Vanda Aparecida dos Santos (Organizadores) Casa Leiria São Leopoldo - RS 2024 Pantanal Coleção Corredores Bioculturais do Brasil
Ficha catalográfica Bibliotecária: Carla Inês Costa dos Santos – CRB: 10/973 Corredores Bioculturais do Brasil Pantanal © Direitos reservados Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS). É proibida a reprodução total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio, sem a permissão escrita do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida, do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental e dos coordenadores do Projeto. Ilustrações: Danúbia Leão, Vanda A. Santos, arquivos do Fé e Vida e GAIA. Textos: Cláudia Sala de Pinho, Clóvis Vailant, Isidoro Salomão, Solange Ikeda e Vanda Aparecida dos Santos. Revisão: Ivan Rubens Dario Jr. e Sílvio Munari. P197 Pantanal [recurso eletrônico]. / organização Clóvis Valiant…[et. al.]. São Leopoldo: Casa Leiria, 2024. (Coleção Corredores Bioculturais do Brasil). Disponível em: <http://www.guaritadigital.com.br/casaleiria/ olma/corredoresbioculturais/pantanal/index.html> Direitos reservados: Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA); Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS). ISBN 978-85-9509-127-6 1. Ecologia integral – Biodiversidade – Brasil. 2. Biodiversidade – Brasil – Pantanal. 3. Pantanal – Brasil – Corredores Bioculturais. 4. Pantanal – Brasil – Desafios e ameaças. 5. Pantanal – Brasil – Boas práticas. I. Valiant, Clóvis (Org.). CDU 261.9:574(81) DOI: https://doi.org/10.29327/5406908
Sumário 06 Eh! Pantanal. Eh! Pantanal. 08 Apresentação 12 Desafios e ameaças 14 Boas práticas 22 Vamos refletir 23 Interligação com os demais biomas
COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 6 Eh! Pantanal. Eh! Pantanal. Princesa linda das terras Diamantinas descia o rio no seu barco a navegar Choram os olhos dos rios que te formam, Rio Paraguai Aqui nasceu pra te encantar. Dentro da mata uma voz um grito ecoa No coração a emoção do Pantanal empoleirada em alto galho conta A Anhuma / Cante ave amiga pro meu povo espantar o mal. Eh! Pantanal. Eh! Pantanal. A luz da lua vai brilhando na lagoa, desvendando magia dos Aguapés Olhos dos bichos ficam acesos iluminado / não vê a seca na lagoa o jacaré. Como fera pintada é a onça cai a tarde sai da toca a caçar / traz mistérios profundos e guardados / com o pôr do sol ela volta a descansar. Eh! Pantanal. Eh! Pantanal. Vanda Aparecida dos Santos Isidoro Salomão EH! PANTANAL. EH! PANTANAL
PANTANAL 7
COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 8 Este pequeno caderno apresenta um pouco do nosso Pantanal. Além de apresentar o Pantanal, queremos que este livreto funcione como abertura de novas possibilidades, que sirva de animação das comunidades pantaneiras para maior engajamento e organização. Queremos que as comunidades conversem mais e encontrem soluções criativas para a vida do Pantanal. Que este livreto anime a participação do povo pantaneiro na resolução de seus problemas, que não fiquem esperando que outros resolvam os problemas. As experiências aqui registradas estão mais localizadas no Mato Grosso. Existem muitas experiências igualmente ricas no Mato Grosso do Sul, onde muitos grupos estão realizando suas organizações e no rumo das mudanças exigidas para preservação da vida no Pantanal. O bioma Pantanal é intenso e, por ser intenso, seria humanamente impossível apresentar todas as experiências. Registramos aqui algumas experiências, tantas outras experiências estão ainda para serem registradas. Estamos convictos de que o rumo dessas mudanças caminha com a agroecologia em contraposição ao agronegócio, e com as ações nos Corredores Bioculturais, cada um valorizando suas culturas, seu ambiente, seus territórios e a vida de seu povo. APRESENTAÇÃO
PANTANAL 9 O Pantanal é uma das maiores áreas úmidas do mundo, conectado a outras áreas úmidas, no centro do continente sul americano. O rio Paraguai forma a principal bacia hidrográfica do Pantanal. Esta bacia representa a parte superior da bacia do Prata, que abrange territórios no Brasil, Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. É considerado Patrimônio Natural pela Constituição Federal (1988) e Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera pela UNESCO (2000). Possui quatro Sítios Ramsar pela Convenção de Conservação de Áreas Úmidas de Importância Internacional. Dentre eles, o Parque Nacional do Pantanal, e o mais recente é a Estação Ecológica de Taiamã, em Cáceres - MT. O Pantanal está inserido na bacia do Alto Paraguai. Formado por uma grande bacia sedimentar, que engloba os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Brasil, e parte do território da Bolívia e do Paraguai, tem uma área de aproximadamente 160.000 km². O sistema de drenagem do rio Paraguai é formado em um planalto, a Chapada dos Parecis. Vários afluentes do Pantanal têm suas nascentes neste planalto, com altitudes superiores a 200 m.
COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 10 As águas deste planalto vão para a planície do Pantanal que, originalmente, se desenvolveu como uma depressão profunda resultante de processos ligados à elevação dos Andes. Importantes para o Pantanal são as águas que descem do Planalto e se mantêm na Planície. A precipitação média anual é de 1.400 mm, variando entre 800 e 1.600 mm, podendo chegar a 2.000 mm, geralmente entre dezembro e fevereiro, e a estação de seca ocorre entre junho e agosto. No período seco, a precipitação varia de 0 a 100 mm, sendo que nos últimos dez anos tem diminuído gradualmente (Lazaro et al. 2020). Para o aumento da seca no Pantanal contribuem fatores ligados à degradação do Planalto, à falta de chuvas provocada pelas mudanças climáticas e à relação com o desmatamento na Amazônia, que altera os rios voadores. Devido à baixa declividade dessa planície no sentido norte-sul e leste-oeste, a água que cai nas cabeceiras do rio Paraguai chega a levar quatro meses ou mais para atravessar todo o Pantanal. Localmente as diferenças no relevo são importantes, nem tanto pelas altitudes que raramente ultrapassam um metro entre unidades vizinhas, mas devido às implicações ecológicas das inundações, que vão diferenciar as comunidades vegetais: campos e florestas monodominantes, como o cambarazal, piuval, abobral.
PANTANAL 11 O PANTANAL É UM CORREDOR BIOCULTURAL Mesmo com os conflitos e violências históricas, a região é lugar de vida e ancestralidade de povos indígenas de distintas matrizes culturais e comunidades tradicionais. Atualmente convivem neste território as populações urbanas e rurais, que precisam aprender com os povos originários como viver e conviver com o pulso de inundação sem destruir o bioma. As comunidades de populações indígenas e tradicionais, pequenos agricultores e sociedade civil dialogam e propõem uma restauração agroecológica e ecológica, pautada nos direitos humanos, culturais e sociais. O corredor biocultural do Pantanal está ameaçado. Dentre os problemas levantados, o risco vêm da proliferação de centenas de barragens para a geração de energia hidroelétrica na região de planalto dos vários rios formadores do Pantanal; do desmatamento das nascentes; da contaminação das águas por agrotóxicos utilizados nas monoculturas; da mineração; e mais recentemente, da substituição de áreas de pastagens por cultivo de soja na planície pantaneira, cuja produção pretende ser escoada com a implantação da hidrovia Paraguai/Paraná.
COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 12 A ação humana pode produzir um cenário de miséria no Pantanal: um território empobrecido por monoculturas, envenenado por agrotóxicos, modificado por mineradoras, paralisado por Hidrelétricas/PCHs, sangrado pela hidrovia e, além disso, agredido por incêndios criminosos para criar pastagem ou grandes plantações, e ameaçado pela seca que chega a nossos rios, nascentes e comunidades pantaneiras. Outras ameaças aterrorizam e revoltam os pantaneiros e pantaneiras: Hidrovia Paraguai/Paraná: os terminais portuários implicam em impactos Sociais, Culturais e Ambientais em todo o Bioma e principalmente no Pantanal do Alto Paraguai. Monocultura da soja e cana-de-açúcar: causa desmatamentos, seca no Pantanal, erosão e assoreamento dos rios, envenenamento das águas com uso abusivo de agrotóxicos. Agrotóxicos nas Águas do Pantanal no Mato Grosso: representam riscos para a saúde das pessoas e do ambiente, encontrados nos poços artesianos, rios, piscicultura. Mineração: resulta na perda de biodiversidade e alteração na dinâmica ecológica de todo o ecossistema no Pantanal, na expulsão de comunidades ribeirinhas e de assentamentos da Reforma Agrária. Hidrelétricas: hoje temos mais de 170 projetos de hidrelétricas em todos os rios formadores do Pantanal no Brasil. Já são 54 em funcionamento, 13 em construção e 114 em diferentes fases de planejamento. DESAFIOS E AMEAÇAS
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COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 14 DIA DO RIO PARAGUAI Já temos uma história de 22 anos Celebrando o “Dia do Rio Paraguai/Pantanal”. Tudo começou quando o Povo foi ao rio e às ruas para defender o seu Rio das ameaças da hidrovia Paraguai/Paraná. Logo começamos a recolher assinaturas e entramos com um projeto de Lei na Assembleia Legislativa e, no ano de 2002, foi criado oficialmente o “Dia do Rio Paraguai”. O Dia do Rio Paraguai acontece todo dia 14 de novembro e é articulado pelo Comitê Popular do Rio Paraguai/Pantanal. A cada ano, diversas ONGs e movimentos se mobilizam, articulados pela Sociedade Fé e Vida e, com muita criatividade, organizam um evento onde o Povo Celebra todas as suas lutas, conquistas e resistências. BOAS PRÁTICAS
PANTANAL 15 JÁ PENSOU VOCÊ ORGANIZAR A SUA COMUNIDADE PARA DEFENDER E PROTEGER O SEU RIO? A luta contra a hidrovia “no tramo Norte” continua sendo a principal bandeira, mas também denunciamos as diversas Ameaças ao Pantanal, destacadas nas páginas anteriores. Além das denúncias, também fazemos anúncios pela Vida do Pantanal: contrapomos a Agroecologia ao Agronegócio e propomos a criação de Corredores Bioculturais, uma nova forma de gerir o Pantanal. Grandes Audiências Públicas são organizadas, lutas são desencadeadas e o povo protagoniza uma história na defesa daquilo que é seu, amando cada vez mais o “Rio Paraguai/Pantanal”.
COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 16 COMITÊS POPULARES DAS ÁGUAS E DO CLIMA Com a convicção de que toda mudança, lei ou iniciativa só tem eficácia quando assumida pelo Povo, a Sociedade Fé e Vida começou a trabalhar e organizar suas bases em Comitês Populares. O objetivo é levar as pessoas a lutarem pelo que é seu. Um Comitê está dentro de um Território concreto, assume uma causa, que no nosso caso é a causa Ambiental. Por serem Comitês das Águas, normalmente se localizam próximos a um Rio ou corpo d’água qualquer. Se associa a outros Comitês ou organizações para um trabalho coletivo e para somar forças. Traça orientações mínimas a seguir e organiza um plano de aprendizado para se capacitarem e planejar suas incidências (no nosso caso, a Escola de Militância Pantaneira).
PANTANAL 17 Com representantes de cada Comitê, organiza-se um calendário de capacitação popular, intercalado à participação em ações concretas, como Audiências Públicas, incidência em geral e a articulação com outros comitês. A dinâmica e continuidade trará resultados. Tudo se dá num processo contínuo de formação. Já fizemos uma História: hoje somos um coletivo de treze comitês, com um processo de aprendizagem, um calendário de ações conjuntas e protagonismo de centenas de pessoas numa mesma causa. O Dia do Rio em cada Comitê Popular das Águas e do Clima é um dia de Festa, Mística, Celebração e Resistência, com lutas envolvendo as comunidades do território onde existe um Rio, nascentes e Povos. As Pantaneiras e Pantaneiros, com suas moringas de barro ou alumínio, entram nas águas e se banham, se abençoam e se comprometem como guardiãs e guardiões cuidadores e defensores do Rio, que é sujeito de Direitos e tem seu nome e seu Dia de Celebração e de lutas.
COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 18 DIREITOS DA NATUREZA A emenda Parlamentar votada no dia 17/07/2023 passou por vários momentos participativos que denominamos como um processo percorrido como: Articulação nas bases dos 13 Comitês Populares das Águas e do Clima, como aprendizado e vivência dos Direitos inerentes a Natureza. Conferência sobre os Direitos da Natureza, onde a base organizada chama Advogados (as), Parlamentares, Pesquisadores, Universidades, Movimentos sociais e outros na Câmara Municipal de Cáceres para Aprendizado e partilha do tema. Dentro do processo de aprendizado da Escola de Militância Pantaneira, foi trabalhada a proposta de alteração da Lei Orgânica do Município de Cáceres com presença de vereadores juntamente com os Comitês populares das Águas e do Clima, Fé e Vida e as organizações parceiras. Continuando, convocamos uma Audiência Pública, que possibilitou aplicar melhorias no texto para que os conceitos e fundamentos dos Direitos da Natureza estivessem contemplados, além de mobilizar a sociedade e vereadores a votarem favorável à inclusão dos Direitos da Natureza. Concluindo, no dia da votação, com a sociedade organizada presente, os vereadores de Cáceres-MT votaram por unanimidade favorável ao reconhecimento e inclusão dos Direitos da Natureza na Lei Orgânica do município. A comunidade presente na cessão comemora e se vê presente e parte da Natureza, agora com Direitos conquistados. O desafio continua. Ver: Cruz (2023), RD News (2023), Formad (2023) e Giraldi (2023).
PANTANAL 19 Cáceres 1ª cidade do Pantanal a reconhecer a Natureza como titular de Direitos
COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 20 APROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS DO FRUTO DE CUMBARU (Dipterix alata) PARA A PRODUÇÃO DE CARVÃO VEGETAL NA COMUNIDADE TRADICIONAL PANTANEIRA ZÉ ALVES, POCONÉ - MT O Cumbaru pode ser utilizado na alimentação (seus frutos, sementes e polpa), no uso medicinal (seu óleo), na recuperação das áreas degradadas, dentre outros. A sobra dos frutos é aproveitada para a produção de carvão, que por meio da parceria entre a Rede Pantaneira, Comunidade Zé Alves e Instituto Federal de Cáceres, vem desenvolvendo pesquisas e experimentos para colocar este produto no mercado em 2024. Ver: Silva (2021), Santos e Lopes (2020) e Melo et al. (2014).
PANTANAL 21 CONCLUSÃO O Pantanal é um bioma especial... O Pantanal é um bioma especial, que deve ser visto e gerido de forma diferenciada. Certamente possui a Biodiversidade mais concentrada. É umCorredor de Vida que corre pelo Vale Central das Américas. Quase tudo que pode ser destruído no Pantanal foi descoberto: a fertilidade de suas terras; a potencialidade de suas águas para o transporte (hidrovia); a pesca (predatória); a geração de energia hidrelétrica (próxima às suas nascentes); suas baixadas úmidas (para a criação de gado) etc. Na linguagem dos exploradores: “sua potencialidade para o agronegócio é grande”. Queremos destacar o Além dos “Negócios” do Pantanal, sua verdadeira Vocação, suas verdadeiras riquezas: a diversidade de vegetais nativos alimentícios com potencial medicinal; as águas com potencial turístico, pesqueiro, recreativo etc.; os Corredores Bioculturais, com destaque ao potencial apícola, podendo chegar ao melhor mel produzido. Com estas riquezas, podemos reverter a energia hídrica destruidora pela Solar sustentável, o agronegócio pela Agroecologia, e assim vamos. Nós, Pantaneiros e Pantaneiras, queremos um Novo olhar, Novas práticas, Nova gestão no Pantanal, voltados para a Vida e não para a continuidade desse projeto de morte.
COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 22 Propostas de perguntas para seguir fomentando o diálogo e o trabalho sobre esse bioma com o grupo/ turma/comunidade: 1. Escreva 5 linhas sobre como você vê o Pantanal. 2. O que você destaca de “Vida no Pantanal”? 3. Qual ameaça atinge você e sua família, sua comunidade, seu comitê, seu território? 4. Como podemos usufruir do Pantanal sem matar, valorizando o coletivo? 5. Qual prática produtiva você tem no Pantanal que o deixa melhor do que estava antes de você? 6. Conte uma historinha sua no Pantanal (por exemplo: pesca, caça, cultura). 7. Como você quer que os seus filhos, filhas e netos encontrem o Pantanal? VAMOS REFLETIR COMECE A FAZER A SUA PARTE HOJE!
PANTANAL 23 O PANTANAL É UM CORREDOR DE BIODIVERSIDADE O Pantanal possui uma alta diversidade de flora e fauna: mais de 2.000 espécies de plantas, mais de 300 espécies de peixes, 47 espécies de anfíbios, mais de 120 espécies de répteis, 650 espécies de aves, 174 espécies de mamíferos e diferentes tipos de vegetação (fitofisionomias). O Pantanal está no centro de quatro grandes Biomas: Amazônia ao norte, Cerrado ao leste, Chaco ao oeste e Mata atlântica ao sul. A localização é um dos fatores que contribuem para a alta diversidade do bioma (Ikeda-Castrillon, 2022). A principal área de influência amazônica dentro do Pantanal, ligada ao vale do rio Paraguai, apresenta um interesse adicional, uma vez que é a única via possível de conexão florística atual, entre a Floresta Amazônica e as Florestas Meridionais. O rio Paraguai e os seus afluentes Sepotuba, Cabaçal e Jauru drenam áreas parcialmente cobertas por florestas de linhagem amazônica (Adamoli, 1986). As plantas e animais no sistema de rios alagáveis têm sua vida controlada pelo pulso de cheias (Junk; Bayley; Sparks,1989). As comunidades humanas do território também têm sua vida determinada pelo ciclo de cheia e seca no Pantanal. INTERLIGAÇÃO COM OS DEMAIS BIOMAS EXISTE APENAS UMA CASA COMUM
COLEÇÃO CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL 24 DICAS: FILMES, LIVROS, MÚSICAS E OUTRAS PRODUÇÕES A VIDA ameaçada. Produzido por Rede Gaia Pantanal et al. Cáceres/MT: Instituto Gaia, 2011. 1 vídeo (18 min). Publicado por Instituto Gaia Pantanal. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Sx0Jc7YzZmY. Acesso em 18 mar. 2024. ADÁMOLI, J. A. Fitogeografia do Pantanal. In: SIMPOSIO SOBRE RECURSOS NATURAIS E SOCIO-ECONOMICOS DO PANTANAL, 1., 1984, Corumba/MS. Anais [...]. Brasília: Embrapa, 1986. p. 105-106. CASTRO, Franciléia Paula de; FREITAS, Lucinéia Miranda; BITTENCOURT, Naiara Andreoli. Agrotóxicos e Violações de Direitos Humanos: Comunidades rurais pulverizadas em Mato Grosso 2020. Cuiabá/MT: Fase, 2020. Disponível em: https://fase. org.br/wp-content/uploads/2020/12/cartilha_agrotoxico_final.pdf. Acesso em: 18 mar. 2024. CRUZ, Márcio Camilo da. Câmara de Cáceres debate projeto de inclusão dos Direitos da Natureza na Lei Orgânica do município. Câmara Municipal de Cáceres, Cáceres/MT, 13 jul. 2023. Disponível em: https://www.caceres.mt.leg.br/ institucional/noticias/camara-de-caceres-debate-projeto-de-inclusao-dos-direitos-da-natureza-na-lei-organica-do- municipio. Acesso em: 18 mar. 2024. FÓRUM POPULAR SOCIOAMBIENTAL DE MATO GROSSO (FORMAD). Mobilização popular e resistência levam Cáceres a feito inédito de inclusão dos Direitos da Natureza em Lei Orgânica. Formad, Cáceres/MT, 17 jul. 2023. Disponível em: https:// formad.org.br/arquivos/4752. Acesso em: 18 mar. 2024. GIRALDI, Renata. Cáceres (MT) preserva em lei os direitos da natureza; 1ª cidade do pantanal. SóNotíciaBoa, Brasília/DF, 24 jul. 2023. Disponível em: https://www.sonoticiaboa.com.br/2023/07/24/caceres-mt-preserva-lei-direitos-natureza-1a- cidade-pantanal. Acesso em: 18 mar. 2024. IKEDA-CASTRILLON, Solange K.; OLIVEIRA-JUNIOR, E. S.; ROSSETTO, O. C.; SAITO, C.H.; WANTZEN, K. M. (2022). O Pantanal: Uma Zona Úmida Neotropical Sazonal sob Ameaça. In: O Manual Palgrave de Sustentabilidade Global. Cham: Palgrave Macmillan, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-030-38948-2_36-1. Acesso em: 18 mar. 2024. JUNK, W. J.; BAYLEY, P. B.; SPARKS, R. E. The flood pulse concept in river-floodplain. Canadian Special Publication of Fisheries and Aquatic Sciences, n. 106, p. 110-127, 1989.
PANTANAL 25 MELO, Sonia Aparecida Beato Ximenes de et al. Cadeia produtiva do cumbaru C (Dipteryx alata Vogel) em Poconé, Mato Grosso. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 34, n. 1, p. 37-58, jan./abr. 2014. Disponível em: https://ainfo.cnptia. embrapa.br/digital/bitstream/item/164006/1/Cadeia-produtiva-do-cumbaru.pdf. Acesso em: 18 mar. 2024. MORTE e Vida Pantaneira. Produzido por Revista Vaidapé e Ninja. São Paulo: Vaidapé; Ninja, 2015. 1 vídeo (12 min). Publicado por Revista Vaidapé. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2e3yukNOG_U. Acesso em 18 mar. 2024. O DIA em que o rio secou. Produzido por Instituto Gaia Pantanal. Cáceres/MT: Instituto Gaia, 2020. 1 vídeo (16 min). Publicado por Instituto Gaia Pantanal. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eJ5FzpObp2E. Acesso em 18 mar. 2024. PARAGUAI: cinco gritos de um rio que morre. Produzido por Revista Vaidapé. São Paulo: Vaidapé, 2016. 1 vídeo (30 min). Publicado por Revista Vaidapé. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DgWOTI3MeOw. Acesso em 18 mar. 2024. PROJETO Restaura Pantanal. Produzido por Rede Gaia Pantanal et al. Cáceres/MT: Instituto Gaia, 2022. 1 vídeo (3 min). Publicado por Instituto Gaia Pantanal. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=stnvJeeAnn8. Acesso em 18 mar. 2024. QUEIMADAS no Pantanal de Cáceres MT. Produzido por Sociedade Fé e Vida. Salvador: Sociedade Fé e Vida, 2021. 1 vídeo (3 min). Publicado por Sociedade Fé e Vida. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MCDRUivnw38. Acesso em 18 mar. 2024. RD NEWS, PORTAL DE NOTÍCIAS DO MT (RD NEWS). Cáceres inclui Direitos da Natureza em Lei Orgânica do Município. RD News, Cáceres/MT, 18 jul. 2023. Disponível em: https://www.rdnews.com.br/legislativo/caceres-inclui-direitos-da-natureza-em- lei-organica-do-municipio-veja-emenda/178773. Acesso em: 18 mar. 2024. SANTOS, Diana Aguiar Orrico; LOPES, Helena Rodrigues (org.). Saberes dos povos do cerrado e biodiversidade. Rio de Janeiro: ActionAid Brasil, 2020. Disponível em: https://campanhacerrado.org.br/images/biblioteca/Saberes%20dos%20Povos%20 do%20Cerrado%20e%20Biodiversidade.pdf. Acesso em: 18 mar. 2024. SILVA, Jonas da. Pesquisa fomentada pela Fapemat analisa potencial do cumbaru para produção de carvão. Fapemat, Cuiabá/MT, 20 nov. 2021. Disponível em: https://www.fapemat.mt.gov.br/-/18504026-pesquisa-fomentada-pela-fape mat-analisa-potencial-do-cumbaru-para-producao-de-carvao. Acesso em: 18 mar. 2024.
CASA LEIRIA Rua do Parque, 470 São Leopoldo-RS Brasil casaleiria@casaleiria.com.br
APOIO REALIZAÇÃO Esta publicação foi possível graças ao apoio da Fundação Tinker
BIOMAS E CORREDORES BIOCULTURAIS DO BRASIL É absolutamente necessário usar o plural para expressar a realidade brasileira: existem sete biomas, e neles existem corredores bioculturais que interligam uns aos outros em uma imensa teia da vida, desenhando um rico mosaico marcado pela diversidade e a complementaridade. É um equívoco antropocêntrico afirmar que estes territórios geradores de tanta vida teriam origem apenas com a emergência da espécie humana. Tudo isso aconteceu bem antes da presença humana, de modo especial muito antes da presença de colonizadores europeus. Ao procurarmos conhecer nossa presença nos biomas, precisamos partir de um profundo agradecimento à generosidade da Terra que oportuniza todas as condições para que a vida floresça. Mas também devemos recordar que a humanidade é apenas uma pequena fração de abundância de vida gerada pela Natureza. Como destacamos nos sete volumes desta Coleção, em todos os biomas e seus corredores bioculturais estão sendo travados enfrentamentos entre aqueles que vivem em harmonia com a Natureza, contra aqueles que percebem a Natureza apenas como recursos a serem explorados para servir ao sistema econômico e a fome gananciosa dos poderosos. Estamos percebendo que este sistema está levando a Terra ao esgotamento, afetando diretamente não apenas a vida humana, mas todas as formas de vida, em todos os biomas. Enchentes, secas extremas, recordes de calor, profunda perda histórica das coberturas vegetais nativas, aumento exponencial da lista de animas ameaçados de extinção, são apenas alguns dos exemplos de que o modo de vida hegemônico está adoecendo todo o Sistema-Terra. A interligação entre os biomas pelos corredores bioculturais é o que mantem em renovação constante a vida na Mãe Terra. Tudo está interligado em uma profunda Ecologia Integral. Por isso, o objetivo central dessa publicação é a valorização das práticas populares que cuidam da vida das pessoas e de toda a comunidade de vida da Mãe Terra. Tais práticas representam formas diferenciadas de viver e se relacionar com a Natureza e quando necessário traçam estratégias para denunciar, enfrentar e proteger a vida nos biomas. A Coleção Corredores Bioculturais do Brasil é uma iniciativa do Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA) e do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), apoiados por dezenas de organizações, coletivos e lideranças que ilustram neste material os principais desafios e as principais estratégias de defesa e promoção da vida, em cada bioma. Luiz Felipe Lacerda Ivo Poletto Casa Leiria
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