61 João Batista Moreira Pinto e Juliana da Silva mente pelo campo político. Uma maior ou menor observância de áreas relacionadas aos direitos humanos e aos direitos da Natureza tem uma correlação direta com os projetos políticos, que, de alguma maneira, indicam também perspectivas políticas para a forma de organização da sociedade proposta, e que, na maioria das sociedades, passa por escolhas políticas eleitorais. Dessa forma, os governos podem adotar diferentes projetos quanto à participação da sociedade civil nas questões do Estado, dependendo de sua posição mais democrática ou mais autoritária. O caso do Brasil, no período recente – considerando o governo que findou em 2022 e o que começou em 2023 –, é um ótimo exemplo para se analisar posições opostas com relação à participação da sociedade civil nas deliberações públicas relativas às questões ambientais e aos direitos humanos em geral, mas também de como governos específicos podem ser determinantes frente à degradação da Natureza e das pessoas mais vulneráveis, seja no incentivo, na omissão ou no combate a essa degradação. Já nos primeiros governos do Partido dos Trabalhadores (PT), nos mandatos de Lula e de Dilma – de 2002 a 2016, tendo sido o último mandato interrompido por articulações do poder político, econômico e midiático – a participação da sociedade civil em conselhos e na realização de conferências públicas e populares em diversas áreas era altamente significativa, evidenciando que tal governo valorizava os princípios democráticos e, portanto, a participação cidadã com reflexos na sociedade, inclusive na proteção ambiental e no tratamento aos povos tradicionais. O governo Bolsonaro – sem entrar no mérito de como foi possível sua eleição – acabou com a representação popular em praticamente todos os conselhos e dizendo brevemente, mas já simbolizando o que foi esse terrível período da sociedade brasileira, incentivou ações que ampliaram o desmatamento e a degradação ambiental, enfraqueceu a estrutura dos órgãos ambientais, aparelhou politicamente órgãos fiscalizadores e foi omisso, por exemplo, com relação a ações ilegais como o garimpo em terras indígenas, o que levou à tragédia humanitária vivenciada pela população indígena Yanomami, que ganhou maior notoriedade com o fim de seu governo. O novo governo Lula, iniciado em 2023, evidenciando sua oposição ao governo anterior, anunciou desde o primeiro momento: o combate ao desmatamento, a desintrusão das terras indígenas Yanomami, o
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