63 João Batista Moreira Pinto e Juliana da Silva Sendo essa uma relação dialética, percebe-se que um governo com essa perspectiva política precisa ter sido eleito indicando em seu plano de governo essas intenções, o que significa que a população e a sociedade civil de alguma maneira já apontavam o desejo dessas mudanças, o que poderá se concretizar em avanços concretos em termos de projetos, legislações e políticas públicas que permitam avanços no controle e no combate à corrupção nos diversos setores, inclusive naqueles com fortes externalidades negativas, sociais e ambientais. Entretanto, a sociedade civil e os movimentos sociais organizados têm igualmente papel fundamental no apoio às propostas de governos que buscam essas transformações, visto que essas mudanças serão sempre objeto de disputas na sociedade, por exemplo, para a elaboração e implementação de leis que busquem maior igualdade social ou maior proteção da Natureza, contra agressões e corrupções. Considerações finais Buscando analisar o combate à corrupção com foco na preservação da vida, percebemos que o combate a estas práticas, sendo majoritariamente enfocadas nas esferas econômicas, são insuficientes para abordagens integrais do fenômeno. Ao considerar as novas concepções da corrupção, atreladas aos modelos de reprodução do capital e que se realizam com os fluxos financeiros ilícitos, estamos suscetíveis também ao combate à corrupção e preservação socioambiental, decorrentes da posição ética do governo que se comprometa com os avanços dos mecanismos de legalidade para coibir as ações ilícitas em todas as esferas entre o público-privado. No caso brasileiro, experienciamos, durante o governo Bolsonaro, retrocessos nos respaldos legais, como apresentado pelo relatório Cumplicidade na Destruição IV: como mineradoras e investidores internacionais contribuem para a violação dos direitos indígenas e ameaçam o futuro da Amazônia (2022), que aponta os pactos de legalidade entre Estado e capital financeiro global e como estes impactam no garimpo legal e ilegal. É necessário, portanto, ampliar o debate da corrupção e sua correlação com o Meio Ambiente, para além das restrições econômicas, envolvendo as questões ambientais, através de pesquisas e políticas pú-
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