76 Governança ambiental e governança climática de forma assimétrica para com as populações minoritárias, incluindo mulheres, crianças, idosos, negros, indígenas e pessoas com deficiência. Ainda que não sejam responsáveis pela geração do problema, os grupos que emitem poucas quantidades de carbono são fortemente impactados. A temática e a realidade das mudanças climáticas atualmente são um elemento crucial do ativismo dessas populações e suas organizações. Na vivência diária dessas comunidades, as alterações climáticas têm sido percebidas por meio de anomalias nos indicadores das estações do ano, como precipitações que ocorrem antes ou depois do previsto, na floração e frutificação de árvores fora de época, ou migração de animais ocorrendo em momentos incomuns. Ademais, tem se tornado cada vez mais comum a presença de eventos climáticos intensos, como vendavais, chuvas torrenciais, períodos de frio ou calor intensos. Esses fenômenos podem prejudicar a produção agrícola, a pesca e a caça, além de interferir nas celebrações e práticas religiosas, festas e rituais fundamentais à vida comunitária (Txicão & França, 2021). As comunidades indígenas, quilombolas e demais povos e comunidades não assumem uma posição de vítimas a respeito dos impactos das mudanças climáticas que sofrem. Participam ativamente das discussões sobre o meio ambiente e a sociedade, apresentando suas opiniões e cosmovisões sobre o mundo. Com isso, introduzem conceitos importantes e inspiradores ao debate, oferecendo sugestões de novas abordagens para se relacionar com o meio ambiente, com base em suas práticas e conhecimentos. Isso é importante no contexto atual, pois reside no fato de que, embora a ciência do clima seja essencial para compreendermos a crise ambiental em escala global, não é sua responsabilidade determinar como as sociedades devem se organizar para resolver os problemas socioambientais decorrentes deste cenário. A escolha de como abordar essas questões é uma decisão política, na qual os diversos segmentos da sociedade brasileira, com suas culturas e perspectivas individuais e coletivas, participam da construção do futuro socioambiental. Portanto, é importante compreender sua relação com o mundo e ouvir suas perspectivas sobre a crise atual. Não há outro segmento da sociedade brasileira que desempenhe um papel tão crucial na preservação do meio ambiente como os povos indígenas e as populações tradicionais, por isso, é de extrema importância compreender a forma como eles se conectam e compreendem os fenômenos que acometem o mundo (Taddei, Cabral, & Scaramuzzi, 2021).
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