Big data e inteligência artificial: a ascensão das técnicas digitais de controle social 242 seu processamento por algoritmos de inteligência artificial, consistem em uma forma de razão mais elevada do que a razão humana e, portanto, o seu uso desenfreado é não só desejado como necessário, servindo, inclusive, para suprimir a razão humana por uma razão algorítmica. Por fim, é realizada análise sobre a psicopolítica na obra de Byung-Chul Han, seu conceito, fundamentos, evolução e consequências de sua ascensão como novo paradigma do poder, um poder que é exercido com a participação ativa e voluntária de seus servos. 1. A ASCENSÃO DOS DADOS COMO INSTRUMENTO DE CONTROLE E VIGILÂNCIA O capital de outrora, como fora observado por Karl Marx (2017a) na sua principal obra, O Capital, funcionava a partir de um modelo mecanicista, caracterizado, primordialmente, pelo surgimento das primeiras máquinas mecânicas de produção de bens de consumo de massa e de alimentos processados e industrializados. No entanto, contemporaneamente, o capital assumiu forma organicista. Para Yuk Hui, essa nova faceta do capital é levada a cabo por máquinas informacionais equipadas com algoritmos complexos, cujo combustível, que outrora na produção industrial identificada por Marx era o carvão, agora é a informação, cuja fonte são os dados Esta capacidade de processamento de dados e sua transformação em informação é que confere a capacidade de estes modelos recursivos estarem em todo lugar e serem eficientes (Hui, 2020, p. 116). A função orgânica do capital refere-se, sobretudo, à sua capacidade autorreferencial e de se retroalimentar: quanto maior a capacidade de processamento de dados, maior a capacidade de obtenção de dados e, por corolário, maior o acúmulo de capital (Domecq, 2020). Além disso, através de técnicas de machine learning, os algoritmos aperfeiçoam-se de forma autônoma, à semelhança – mas não identidade – de organismos biológicos. A tendência antevista por Marx permanece, alteram-se apenas as formas de funcionamento e de acumulação do capital. Byung-Chul Han (2021a, p. 72), por seu turno, identifica na crescente “euforia dos dados” uma das razões que possibilitam a ascensão vertiginosa e a expansão onipresente dos dados no cotidiano, cuja presença, hoje, é permanente. Para Han, não somente a
RkJQdWJsaXNoZXIy MjEzNzYz