251 Mauricio Dal Castel A partir deste poder silencioso, que atravessa os sujeitos, característica do poder identificada por Deleuze (2013, pp. 223-230) nos primórdios da sociedade de controle, que será possível a solidificação daquilo que Byung-Chul Han denominou de psicopolítica. O big data consiste na ferramenta que tornou possível o acesso virtualmente irrestrito a aspectos não só da vida humana, mas da própria mente humana, servindo de instrumento para a predição de comportamentos, o condicionamento de condutas desejáveis (aos detentores do superavit comportamental), e o controle praticamente absoluto e despercebido, confundido com a própria noção de liberdade, do ser humano. 3. DATAÍSMO: A RELIGIÃO DO CULTO AOS DADOS O termo “dataísmo” surgiu no ano de 2013, mais precisamente em 4 de fevereiro, quando o comentarista político do The New York Times, David Brooks, pioneiramente o utilizou em seu artigo para o periódico intitulado The Philosophy of Data. No texto, Brooks apresenta uma perspectiva otimista sobre a ascensão do big data em atividades profissionais como as análises política, esportiva e educacional, nas quais a leitura estatística obtida através de uma quantidade massiva de dados sobre essas atividades e processada por tecnologias de big data possibilitariam a tomada de decisões de forma melhor informada e, portanto, melhor orientada, privilegiando escolhas racionais em detrimento de escolhas emocionais ou intuitivas (Brooks, 2013). No artigo, o autor apresenta o dataísmo como a filosofia ascendente da atualidade. Aduz Brooks: Se você me pedisse para descrever a filosofia crescente da época, eu diria que é o dataísmo. Agora temos a capacidade de coletar grandes quantidades de dados Essa habilidade parece carregar consigo certas suposições culturais – que tudo o que pode ser medido deve ser medido; que os dados são lentes transparentes e confiáveis que nos permitem filtrar o emocionalismo e a ideologia; esses dados nos ajudarão a fazer coisas notáveis – como prever o futuro (Brooks, 2013). Yuval Harari, por seu turno, define o dataísmo como uma religião voltada ao culto dos dados, ou seja, não como uma filosofia
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