Big data e inteligência artificial: a ascensão das técnicas digitais de controle social 252 supostamente racionalista, nos termos defendido por David Brooks. O dataísmo é voltado ao culto, principalmente, dos dados em sua versão mais extrema, o big data. O historiador israelense conceitua o dataísmo da seguinte forma: Segundo o dataísmo, o Universo consiste num fluxo de dados e o valor de qualquer fenômeno ou entidade é determinado por sua contribuição ao processamento de dados. Isso pode soar como uma noção excêntrica e marginal, mas o fato é que ela já conquistou a maioria do estamento científico O dataísmo nasceu da confluência explosiva de duas marés científicas. Nos 150 anos que transcorreram desde que Darwin publicou A origem das espécies, as ciências biológicas passaram a ver os organismos como algoritmos bioquímicos. Simultaneamente, nas oito décadas desde que Alan Turing formulou a ideia da máquina que leva seu nome, cientistas da computação aprenderam a projetar e fazer funcionar algoritmos eletrônicos cada vez mais sofisticados. O dataísmo reúne os dois, assinalando que exatamente as mesmas leis matemáticas se aplicam tanto aos algoritmos bioquímicos como aos eletrônicos. O dataísmo, portanto, faz ruir a barreira entre animais e máquinas com a expectativa de que, eventualmente, os algoritmos eletrônicos decifrem e superem os algoritmos bioquímicos (Harari, 2016, p. 370). Para Byung-Chul Han, o dataísmo, seja visto como religião, como filosofia ou como ideologia, faz emergir um “segundo Iluminismo”, não mais movido pela razão, mas por dados, pelo “puro conhecimento movido a dados”. Segundo o autor, em nome desta (pretensa) razão, foram suprimidos “a imaginação, a corporalidade e o desejo”. O dataísmo, inserido no contexto da sociedade da transparência, conceitos que, conforme já descrito anteriormente a respeito das categorias trabalhadas por Han, sustentamum ao outro, fulmina as formas narrativas da linguagem, essencialmente humana. Os dados, agora imensuráveis e incognoscíveis aos seres humanos sem o auxílio das tecnologias de big data, são aditivos, numéricos, estatísticos, não narrativos. Dessa forma, ao soterrar a linguagem como chave interpretativa da realidade, o dataísmo converte-se em niilismo, retirando o fator humano, até mesmo fenomenológico, da interpretação da realidade, pois agora tudo – o Universo inteiro e a própria realidade como a conhecemos ou pretendemos conhecer – é descri-
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