253 Mauricio Dal Castel to a partir de dados. Os dataístas, como Han denomina os adeptos do dataísmo, assim o são em decorrência de, atualmente, os números e os dados serem, além de absolutizados, sexualizados e fetichizados. A fetichização dos dados manifesta-se através do fenômeno do quantified self, intimamente relacionado com a subjetividade voltada ao desempenho característica da sociedade neoliberal do século XXI. Os dataístas e adeptos ao autoconhecimento a partir dos dados, “datassexuais” como ironicamente referido pelo autor, movem-se pelo desejo de obtenção e concessão de informações, desejo este, segundo Han, que desenvolve características libidinais e, ao extremo, traços pornográficos (Han, 2018, pp. 82-83). A transparência, ode da sociedade neoliberal digitalizada, fomenta a exposição pornográfica, completa, absoluta, livre de nuances e de espaços desconhecidos. A exposição, ou hiperexposição como cunhado por Han, não se restringe apenas à imagem, mas a âmbitos outros da vida até então privada, como desempenho esportivo e laboral, saúde física e hábitos alimentares, dentre outros. O dataísmo, através do big data, reifica o pensamento e o comportamento humanos, tornando-os cognoscíveis de formas incognoscíveis ao próprio sujeito, transformando-os em números, probabilidades, expectativas, possibilidades e instrumentos de manipulação. A voluntariedade, extensamente apresenta como elementar para este cenário, transforma a exploração dataísta em (pretensa) liberdade, subvertendo a vida à funcionalidade, a funções, padrões de desempenho, em corpos úteis e anestesiados pela sensação de liberdade, de livre-arbítrio. Para Han, o princípio do desempenho aproxima o ser humano da máquina (Han, 2018, p. 21). A vida passa a ser regida pelos ditames da eficiência e da utilidade. Assim, estes procedimentos de expansão da disponibilidade e da disponibilização de dados levamà algoritmização da vida social, remetendo todos os indivíduos a uma espécie de era de “barbárie dos dados”, onde a crença na mensurabilidade e na quantificação da vida domina toda o mundo digital. A simplificação da vida, dos processos sociais e políticos, e da própria realidade sob a ótica dos dados, cuja expansão assume a forma de máxima ética, reduz a sociedade, as pessoas e omundo a números, estatísticas, gráficos emodelos computacionais, transformando tudo em objeto de verificação e cálculo, cujo manejo é restrito a programadores, via de regra vin-
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