257 Mauricio Dal Castel sumam o lugar da fetichização das mercadorias outrora identificada por Marx (2017a, pp. 146-148). A hiperinflação e a hiperprodução de coisas, ou mercadorias para Marx, que as torna excessivas em quantidades e, portanto, frívolas, faz crescer a indiferença quanto à sua existência e disponibilidade. A obsessão humana, portanto, é deslocada das coisas para a informação e para os dados. Hoje, o indivíduo é literalmente intoxicado por informações em demasia4 e as energias libidinais são transpostas das coisas para aquilo que Han cunhou como “não-coisas”. A consequência disto consiste naquilo que o autor cunhou de “infomania”, termo criado para conceituar a obsessão por informações e dados, tornando os sujeitos em “infômanos”, em seres datassexuais, dataístas, uma vez que o fetichismo das coisas, ou das mercadorias como antevisto por Marx, cedeu espaço para o fetichismo dos dados (Han, 2021b, p. 9). Ricardo Timm de Souza, por seu turno, identifica o fetichismo pela ciência e pela tecnologia como instrumento de idolatria e de idolatrização da técnica científica. Aduz o autor: O “aparato lógico” que, com seu poder de abstração, permitiu o surgimento e o avanço da ciência moderna e da tecnologia tornou-se para si mesmo um fetiche, o primeiro passo para a aberta constituição em ídolo da idolatrização. De instância crítica da realidade, se converteu em instrumento legitimador de um reflexo da realidade que teria como constitutivo principal a pretensão de substituir, com vantagem, à realidade mesma. Omundo, assombrado por esse fetiche, procura a si mesmo, para falar com Rosenzweig, em algo totalmente diferente dele mesmo; o que ele realmente é permanece obscurecido por trás da falsa consciência que ele gera. Os dados que constam no disco rígido do computador são mais importantes do que as intenções de quem lá os colocou; a forma de como a máquina os organiza é mais importante do que saber o que pode significar, exame, “organização”. O mundo administrado – um grande Processo kafkiano – presta contas apenas a si mesmo de suas razões: o resto seria falsa consciência, ingenuidade ou pré-cientificidade (Souza, 2020, p. 246). 4 Em 1996, o psicólogo britânico David Lewis utilizou, pela primeira vez, o termo “síndrome da fadiga por informação” para designar o distúrbio caracterizado por quem processa informações além do volume considerado saudável pelo cérebro (Lewis, 1996). Também no ano de 1996, o físico e especialista em inovação espanhol Alfons Cornella criou o termo “infoxicação” para designar o estado mental disfuncional de indivíduos expostos a uma quantidade de informação excessiva ao ponto de não ser processável pelo cérebro humano e, assim, causando os sintomas característicos deste distúrbio (Cornella, 1996).
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