Big data e inteligência artificial: a ascensão das técnicas digitais de controle social 260 lância digital, ler e controlar pensamentos. A vigilância digital toma o lugar da ótica inconfiável, ineficiente e perspectivista do Big Brother. Ela é eficiente porque é aperspectivista. A biopolítica não permite nenhum acesso sutil à psyche de pessoas. O psicopoder, em contrapartida, está em condições de intervir nos processos psicológicos (Han, 2018, pp. 130-131). O poder psicopolítico não se serve mais da analogia com o panóptico benthamiano na descrição foucaultiana da sociedade disciplinar. O panóptico, agora, é digital. O panóptico digital de Han difere-se do panóptico extensamente analisado por Foucault, principalmente, por ser aperspectivístico. Não há mais uma vigilância centralizada unicamente no centro. A vigilância é difundida. O panóptico digital constrói-se de forma descentralizada e aperspectívista e justamente nessa característica reside sua maior eficiência em comparação com a analogia do panóptico de Bentham, onde são submetidos ao controle e estruturados de forma a permitir este controle presídios, fábricas, hospitais, escolas, quartéis. Na sociedade de controle digital, os habitantes do panóptico não se imaginam sob supervisão e vigilância constante, pelo contrário, imaginam-se em pleno gozo da liberdade, liberdade esta instrumentalizada para os fins pretendidos por aqueles que detêm o controle das informações e dos dados voluntária ou involuntariamente cedidos pelos sujeitos (Han, 2017b, pp. 106-109). Diferentemente do panóptico benthamiano, os habitantes do panóptico digital comunicam-se intensivamente e expõem-se voluntariamente uns aos outros de forma igualmente intensa. O poder psicopolítico, portanto, faz uso intensivo da liberdade, só sendo possível através dela, dando-lhe legitimidade, sustentação e matéria-prima. O poder psicopolítico se concretiza ali onde os sujeitos não mais se expõem e submetem-se ao seu jugo por coação externa, mas movidos por uma necessidade interna, dataísta (ou datassexual), “onde, portanto, o medo de renunciar à sua esfera privada e íntima dá lugar à necessidade de colocá-la à vista impudicamente, e onde liberdade e controle se tornam indistinguíveis” (Han, 2021a, p. 54). Dessa forma, Han sintetiza a diferença entre o poder biopolítico e o poder psicopolítico da seguinte forma: O Big Brother do panóptico benthamiano é capaz de observar os prisioneiros apenas em seu exterior. Ele não
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