261 Mauricio Dal Castel sabe o que se passa em seu interior. Não ser ler seus pensamento [sic]. No panóptico digital, ao contrário, é possível penetrar nos pensamentos de seus habitantes. É nisso que consiste a enorme eficiência do panóptico digital. Um controle psicopolítico da sociedade se torna, então, possível (Han, 2021a, p. 55). Segundo Han (2018), faltou a Foucault, impedido de o fazer em decorrência de sua morte prematura, realizar a virada da biopolítica característica da sociedade disciplinar capitalista para a psicopolítica característica do regime neoliberal. Para o autor, Foucault vincula a biopolítica à forma disciplinar do capitalismo, ao controle do corpo propriamente dito, nos seus aspectos biológico e somático. Contudo, o regime neoliberal, como evolução ou mutação do capitalismo, não se ocupa primariamente com biológico, o somático e o corporal, mas, antes de tudo, com a psyche como força produtiva. Assim, a virada da biopolítica para a psicopolítica encontra-se vinculada às próprias formas de produção neoliberais, majoritariamente imateriais e incorpóreas, fazendo com que o corpo não seja mais a força produtiva central como o era na sociedade disciplinar. Agora, em vez de serem superadas resistências corporais, “processos psíquicos e mentais são otimizados para o aumento da produtividade O disciplinamento corporal dá lugar à otimização mental.” (Han, 2018, pp. 37-40). A psicopolítica se faz presente, então, nesta forma de controle invisível característica do regime neoliberal, especialmente em sua versão digital, exercida através da ausência de negatividade, obstáculos e privações, mas, pelo contrário, a partir de uma positividade pura, pela busca incessante por rendimento, pela necessidade de exposição, de informar-se, de comunicar-se irrestritamente, fazendo nascer um nova forma de controle alicerçada na dependência, na necessidade (Landázuri, 2017), transformando a liberdade em instrumento eficiente de controle. As novas tecnologias digitais de comunicação promovem, desta forma, o compartilhamento sucessivo e crescente de conteúdo entre os usuários, consumidores e produtores de informação, ao passo que, enquanto consomem e produzem, ainda fornecem informações convertidas em dados que servem de combustível para o domínio gerado através de sua própria atividade, do próprio exercício de sua liberdade. A algoritmização do cotidiano acentua-se com o acúmulo de dados, obtidos em
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