Anais do XXI Seminário Internacional Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente desafios jurídicos éticos e sociais para a “grande transição sustentável” (XXI SEMINANOSOMA) 182 Além disso, a promessa de redução do desmatamento não foi cumprida. O aumento da produtividade não impediu a expansão da fronteira agrícola, mas, paradoxalmente, a incentivou. Nesse contexto, o agronegócio se consolidou como um dos motores da economia, le- vando à pressão crescente sobre áreas de floresta, sobretudo na Ama- zônia e no Cerrado, suprimindo diversos biomas. As monoculturas de soja, milho e cana-de-açúcar se expandiram, sem garantir a preserva- ção dos biomas e o uso equilibrado dos recursos naturais. Com o advento da biotecnologia e da nanotecnologia, o discurso de sustentabilidade foi renovado. Defensores dessas tecnologias apontam para o aumento da eficiência no uso de insumos agrícolas, com a promessa de que os fertilizantes e pesticidas podem ser manejados de maneira mais precisa, minimizando-se seu impacto ambiental. Entretanto, uma vez mais, o conceito de sustentabilidade adotado é restrito à eficiência produtiva. Essas tecnologias podem reduzir o uso de insumos em certos contextos. No entanto, não resolvem o problema central: o modelo agrícola dominante. Este favorece grandes monoculturas, principalmente para a exportação de commodities. Esse modelo, focado em maximizar a produtividade de poucas culturas, ignora a importância da diversidade agrícola, tanto em termos de espécies cultivadas quanto de práticas de manejo. A agricultura sustentável, de fato, deveria valorizar a diversidade de sementes crioulas e preservar os sistemas tradicionais de produção, que são mais resilientes e ambientalmente equilibrados. Além disso, a biotecnologia e a nanotecnologia, ao serem pro- movidas como soluções tecnológicas, frequentemente reforçam a dependência dos agricultores em relação a grandes corporações multi- nacionais, que controlam as patentes dessas inovações. Isso cria uma barreira de acesso para pequenos produtores e perpetua um ciclo de dependência tecnológica que dificulta a autonomia agrícola e a sobe- rania alimentar. Aliada das bio e das nanotecnologias, a inteligência artificial (IA) oferece um novo impulso ao processo de transformação da agri- cultura brasileira. Ela está presente no monitoramento de safras, con- trole de pragas, uso mais eficiente de água e insumos, e rastreamento de produtos agrícolas. Com drones, sensores e sistemas automatiza- dos, agricultores conseguem acompanhar grandes áreas de cultivo em tempo real e tomar decisões mais precisas com base em dados. No campo da tecnologia, a IA tem papel importante em atividades como seleção de sementes, previsão climática, análise de solo com big data
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