XXI SEMINANOSOMA

25 Anais do XXI Seminário Internacional Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente desafios jurídicos éticos e sociais para a “grande transição sustentável” (XXI SEMINANOSOMA) Ainda, como destaca a autora (Delmas-Marty, 2011), o humanismo jurídico enfrenta inúmeras fraquezas. Em meio à globalização dos mercados, no campo das políticas globais é que se testemunha o ergui- mento de muros que separam, excluem e etiquetam os indivíduos em nome de princípios que foram construídos justamente para proteger os direitos humanos, como é o caso do princípio da precaução. O etique- tamento sofrido por pessoas que são consideradas “os outros”, desde 2001, em razão da queda das torres gêmeas em Nova York, tem sido o motor da lógica securitária – que não cessa de crescer –, e por meio da qual Estados têm transformado legalidades em ilegalidades. Enquanto isso, os defensores dos direitos humanos lutam pela afirmação e efeti- vidade dessas garantias que miram a direção contrária: a integração, a proteção da vida e a promoção da dignidade para “os outros”. A “lógica guerreira”, para lembrar da precisa expressão de Del- mas-Marty (2011), foi enormemente intensificada por eventos como a guerra no leste europeu e, mais recentemente com o genocídio praticado pelo governo de Israel contra o povo palestino. Tratam-se, se- gundo Fréderic Gros (2023), de guerras de “caotização”, um tipo de conflito moderno caracterizado pela intenção de produzir desordem e caos estrutural em um território ou em uma sociedade por meio da adoção de táticas assimétricas de efeito prolongado, destrutivas do te- cido social e o humano que resta dele. Essa dinâmica é cúmplice de práticas autoritárias, do que são exemplos as prisões ilegais em Abu Ghraib e Guantánamo, e amplifi- ca a vulnerabilidade humana e ambiental. Tais fenômenos, segundo Gros (2023) são a evidência da erosão da soberania e da ascensão de formas de violência globalizadas associadas, invariavelmente, a inte- resses econômicos e geopolíticos que se beneficiam da instabilidade e, consequentemente, enfraquecem o humanismo. Todo o discurso hu- manitário transforma-se em controle de exceção, enquanto a justiça é instrumentalizada por governos autoritários. O Direito, por sua vez, deixa de ser protetivo e se torna uma arma de guerra. Neste sentido, os desafios éticos que se impõem face à transição humana entre huma- nismo, pós-humanismo e transumanismo merece atenção, sendo este o objeto de estudo da parte que segue. Parte 2. A transição humana entre humanismo, pós-humanismo e transumanismo: os desafios éticos No âmbito do tema da “grande transição” é também preciso que lancemos o olhar para a transição humana que deriva das prá-

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