Anais do XXI Seminário Internacional Nanotecnologias, Sociedade e Meio Ambiente desafios jurídicos éticos e sociais para a “grande transição sustentável” (XXI SEMINANOSOMA) 26 ticas e correntes “pós-humanistas” e transumanistas. Para Mireille Delmas-Marty (2010), a humanidade, entre debilidade e construção em progresso, atravessa um momento de “trânsito” face às incertezas da governança global e a necessidade de um direito mais flexível, que consiga orientar as sociedades em transição. A “humanidade em trânsito” remete, assim, à noção de um momento de transição, marcado pela tensão entre o velho e o novo, entre estruturas tradicionais e emergentes. Esse trânsito, evidente em crises como a da pandemia de covid-19 e dos conflitos armados, revela a necessidade de conciliar liberdade e solidariedade, como destaca Frédérick Keck (2020, p. 11). Jean-Marie Durand (2011) no curso Hominização e Humaniza- ção realizado no Collége de France em 2011 evidenciou mais de 3.000 anos de evolução humana. A linha do tempo trazia recortes desde a Mesopotâmia, uma região pluralista com grandes cidades, tribos, com línguas e costumes distintos até chegarmos ao tempo presente, este do pós-humanismo4. O pós-humanismo é marcado pela combinação entre a possi- bilidade do desaparecimento da espécie humana pela transformação radical de sua condição biológica e filosófica (Schwerzmann, 2018) e, também, que o humano é uma construção em progresso e que pode suplantar sua condição biológica (Maftei, 2020). A última possibilidade, é preciso lembrar, nada mais é do que a reafirmação do humanismo liberal que concebe o pós-humano como resultado do progresso técni- co expressando, portanto, uma aproximação da questão humana com o neoliberalismo. Ela, evidentemente, distancia-se de qualquer refle- xão sobre valores, seja no que diz respeito ao uso da técnica, em espe- cial, acerca das produções relacionadas à robotização e à inteligência artificial (Schwerzmann, 2018). Como disse Delmas-Marty (2010, p. 14) esse grande projeto trata de desumanizar para pós-humanizar, ele dessocializa para autonomizar. Ao tratar das três utopias (pós-humanista; animalista e cos- mopolita), Francis Wolf (2017) afirma, com relação à primeira, que devemos considerar três éticas: a da primeira pessoa, relacionada a nós mesmos e ao nosso desejo de imortalidade. A da segunda pessoa, movida pela generosidade em relação a outra pessoa para auxiliá-la a 4 O transumanismo nasce nos anos 90 do século XX na ebulição da cultura californiana. Na época, o termo foi denominado de « Extropy » e cultivava um libertarismo entusiasmado por pregar uma vida prolongada, livre do envelhecimento, a colonização espacial e o aumento das capacidades humanas. Veja-se em: DAMOUR, Franck. Histoire du transhumanisme. In: Humanisme, transhumanisme, posthumanisme. Collège des Bernardins: 2017. Dis- ponível em: https://www.collegedesbernardins.fr/seminaires/humanisme-transhumanis me-posthumanisme. Acesso em: 23 nov. 2024.
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